O norte-americano Brad Snyder perdeu a visão enquanto lutava por seu país no Afeganistão, em 2011, ao pisar em uma mina perto da cidade de Kandahar.
Encontrou refúgio na natação, que foi seu esporte ainda criança, e, um ano depois do acidente, se tornou bicampeão paraolímpico nos Jogos de Londres.
Um dos destaques da próxima Paraolimpíada, ele diz estar ainda melhor e espera conquistar três
ouros, em setembro, no Rio.
*
Eu comecei no esporte com 11 anos, muito por influência do meu pai. Ele havia nadado quando jovem e me colocou desde cedo para praticar.
Como eu nunca fui muito bom em esportes com bola, ele mesmo me sugeriu tentar a natação. Foi uma espécie de amor à primeira vista.
Confesso que não demonstrei um grande talento de cara, mas a natação tem uma característica única no sentido de recompensar o trabalho duro. Se trabalhar com afinco, o resultado vem, tempos diminuem, vitórias se acumulam. Com o tempo, entendi que, quanto mais treinasse, mais recompensa teria.
Percorri minha adolescência toda assim e nadei por quatro anos na faculdade, pela Navy Academy, em Maryland [EUA]. Cheguei a ser capitão da equipe.
Porém, como a vida dá voltas, resolvi aposentar minha touca e investir na carreira militar. Me especializei em desarmar e neutralizar bombas. Servi no Iraque, no Afeganistão e em outras partes do mundo.
Eu me lembro de tudo naquele dia. Era uma manhã de setembro de 2011 [dia 7]. Estávamos indo de uma vila para outra em Kandahar [Afeganistão], havia paredes, prédios, campos. As imagens estão marcadas na memória.
Curioso pensar que minha última visão foram as montanhas do Afeganistão e que, a bem da verdade, aquele é um país geograficamente muito bonito.
Uma mina explodiu sob mim. Quando fui atingido, em meio àquele vai e vem de sensações, achei que estava morto. Lembro-me de estar caído ao chão e que era aquilo, era esperar pelo que vinha depois.
O que me manteve vivo foi uma quantidade enorme de drogas, que me deixaram louco, sem brincadeira, por um bom tempo. Quando finalmente tive noção da extensão, me avisaram que eu tinha duas notícias, uma boa e outra ruim.
A boa: seu cérebro, corpo e coração vão se curar.
A ruim: você perdeu a visão.
Hoje, sou 100% cego. Uso próteses no lugar dos olhos porque os perdi. Eles são falsos. E até por isso sou obrigado a usar óculos para que nada os atinja e me lesione.
Houve momentos difíceis, mas surpreendentemente tirei daquilo um lado positivo. Me fez pensar que eu sabia o que precisava ser feito para me recuperar como humano.
O nadador posa para foto do time olímpico dos EUASean M. Haffey/AFP
E o esporte me ajudou a ganhar confiança depois do acidente. Uma pessoa próxima à minha família me sugeriu: "por que você não tenta ir para os Jogos Paraolímpicos?"
Tomei a decisão e, um ano depois, conquistei três medalhas na Paraolimpíada de Londres [dois ouros e uma prata].
Não há espaço para lamento em minha vida. Podem até achar exagero, mas eu acho que minha vida é melhor do que teria sido com visão.
Tenho uma família que me apoia, viajo pelos EUA e pelo mundo o tempo todo, dou discursos motivacionais, enfim, gosto de pensar que inspiro pessoas a superar desafios.
A próxima etapa desse meu desafio são os Jogos Paraolímpicos do Rio. Pessoalmente, eu gostaria de ganhar a medalha de ouro que perdi em Londres e levar três ouros [nos 50 m, 100 m e 400 m da classe S11, para atletas com completa ou quase completa perda de visão].
Hoje, sou um nadador bem melhor do que era há quatro anos. Além disso, Londres aconteceu muito rapidamente. Eu havia perdido a visão um ano antes e não aproveitei o quanto podia porque não entendia a magnitude daquilo. Agora, nos Jogos do Rio, eu pretendo levar mais numa boa, desfrutar o máximo possível cada momento.
A imagem que projeto do Rio é de calor, de uma cidade elétrica, na qual todos os atletas estarão superempolgados. Me imagino nadando para os tempos mais rápidos de minha vida, sem colidir com as raias –o que, acredite, é muito difícil para um nadador cego–, conquistando medalhas.
BRAD SNYDER
CLASSE
S11 (atletas com cegueira completa ou quase completa)
CONQUISTAS
Ouro nos 100 m livre e 400 m livre e prata nos 50 m livre na Paraolimpíada de Londres-2012; ouro nos 50 m, 100 m e 400 m livre no Mundial de Glasgow-2015
O norte-americano Brad Snyder perdeu a visão enquanto lutava por seu país no Afeganistão, em 2011, ao pisar em uma mina perto da cidade de Kandahar.
Encontrou refúgio na natação, que foi seu esporte ainda criança, e, um ano depois do acidente, se tornou bicampeão paraolímpico nos Jogos de Londres.
Um dos destaques da próxima Paraolimpíada, ele diz estar ainda melhor e espera conquistar três
ouros, em setembro, no Rio.
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Eu comecei no esporte com 11 anos, muito por influência do meu pai. Ele havia nadado quando jovem e me colocou desde cedo para praticar.
Como eu nunca fui muito bom em esportes com bola, ele mesmo me sugeriu tentar a natação. Foi uma espécie de amor à primeira vista.
Confesso que não demonstrei um grande talento de cara, mas a natação tem uma característica única no sentido de recompensar o trabalho duro. Se trabalhar com afinco, o resultado vem, tempos diminuem, vitórias se acumulam. Com o tempo, entendi que, quanto mais treinasse, mais recompensa teria.
Percorri minha adolescência toda assim e nadei por quatro anos na faculdade, pela Navy Academy, em Maryland [EUA]. Cheguei a ser capitão da equipe.
Porém, como a vida dá voltas, resolvi aposentar minha touca e investir na carreira militar. Me especializei em desarmar e neutralizar bombas. Servi no Iraque, no Afeganistão e em outras partes do mundo.
Eu me lembro de tudo naquele dia. Era uma manhã de setembro de 2011 [dia 7]. Estávamos indo de uma vila para outra em Kandahar [Afeganistão], havia paredes, prédios, campos. As imagens estão marcadas na memória.
Curioso pensar que minha última visão foram as montanhas do Afeganistão e que, a bem da verdade, aquele é um país geograficamente muito bonito.
Uma mina explodiu sob mim. Quando fui atingido, em meio àquele vai e vem de sensações, achei que estava morto. Lembro-me de estar caído ao chão e que era aquilo, era esperar pelo que vinha depois.
O que me manteve vivo foi uma quantidade enorme de drogas, que me deixaram louco, sem brincadeira, por um bom tempo. Quando finalmente tive noção da extensão, me avisaram que eu tinha duas notícias, uma boa e outra ruim.
A boa: seu cérebro, corpo e coração vão se curar.
A ruim: você perdeu a visão.
Hoje, sou 100% cego. Uso próteses no lugar dos olhos porque os perdi. Eles são falsos. E até por isso sou obrigado a usar óculos para que nada os atinja e me lesione.
Houve momentos difíceis, mas surpreendentemente tirei daquilo um lado positivo. Me fez pensar que eu sabia o que precisava ser feito para me recuperar como humano.
O nadador posa para foto do time olímpico dos EUASean M. Haffey/AFP |
E o esporte me ajudou a ganhar confiança depois do acidente. Uma pessoa próxima à minha família me sugeriu: "por que você não tenta ir para os Jogos Paraolímpicos?"
Tomei a decisão e, um ano depois, conquistei três medalhas na Paraolimpíada de Londres [dois ouros e uma prata].
Não há espaço para lamento em minha vida. Podem até achar exagero, mas eu acho que minha vida é melhor do que teria sido com visão.
Tenho uma família que me apoia, viajo pelos EUA e pelo mundo o tempo todo, dou discursos motivacionais, enfim, gosto de pensar que inspiro pessoas a superar desafios.
A próxima etapa desse meu desafio são os Jogos Paraolímpicos do Rio. Pessoalmente, eu gostaria de ganhar a medalha de ouro que perdi em Londres e levar três ouros [nos 50 m, 100 m e 400 m da classe S11, para atletas com completa ou quase completa perda de visão].
Hoje, sou um nadador bem melhor do que era há quatro anos. Além disso, Londres aconteceu muito rapidamente. Eu havia perdido a visão um ano antes e não aproveitei o quanto podia porque não entendia a magnitude daquilo. Agora, nos Jogos do Rio, eu pretendo levar mais numa boa, desfrutar o máximo possível cada momento.
A imagem que projeto do Rio é de calor, de uma cidade elétrica, na qual todos os atletas estarão superempolgados. Me imagino nadando para os tempos mais rápidos de minha vida, sem colidir com as raias –o que, acredite, é muito difícil para um nadador cego–, conquistando medalhas.
BRAD SNYDER
CLASSE
S11 (atletas com cegueira completa ou quase completa)
CONQUISTAS
Ouro nos 100 m livre e 400 m livre e prata nos 50 m livre na Paraolimpíada de Londres-2012; ouro nos 50 m, 100 m e 400 m livre no Mundial de Glasgow-2015
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