Teste em áreas de competição no Rio reprova água longe da costa, diz AP
Segundo a agência, quantidade de vírus a 1 km é a mesma da costa.
Baía de Guanabara e na Lagoa Rodrigo de Freitas teriam sido testadas.
A água de locais que serão usados nas competições das Olimpíadas do Rio de Janeiro está contaminada por vírus que causam doenças — mesmo longe da costa. É o que diz uma nova rodada de testes, encomendada pela agência de notícias Associated Press.
Segundo a agência, a quantidade de vírus registrados a mais de um quilômetro na Baía de Guanabara e na Lagoa Rodrigo de Freitas é a mesma perto da terra, onde desemboca esgoto.
De acordo com a agência, isso significa que não há diluição, ou seja, não há menos risco para a saúde dos atletas.
Ainda de acordo com a AP, amostras colhidas a pedido da agência a 1,3 mil metros da costa da Baía de Guanabara tinham vírus em quantidade 35 mil vezes mais alta que o patamar considerado alarmante nos Estados Unidos e na Europa. Na Lagoa, uma amostra obtida a 200 metros da margem — dentro das raias de remo e canoagem — tinha contagens virais 30 mil vezes acima.
Os vírus detectados infectam os sistemas intestinal e respiratório. Danos cardíacos ou cerebrais também são possíveis, mas raros.
“Esses níveis de vírus estão disseminados. Não é só ao longo da costa, mas em toda a extensão da água, o que aumenta a exposição das pessoas que entram em contato com ela”, afirmou Kristina Mena, especialista em vírus transmitidos pela água e professora associada de saúde pública no Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas em Houston, em entrevista à AP.
De acordo com Kristina, o ambiente onde as competições acontecerão é extremo, em que a poluição é tão alta que a exposição iminente e a probabilidade de infecção é muito alta.
Os testes da AP não só detectaram que a Lagoa Rodrigo de Freitas e a Baía de Guanabara estão extensamente contaminadas por vírus, como também detectaram um pico de coliformes fecais bacterianos no local – mais de 16 vezes o nível permitido pela lei brasileira.
De acordo com o resultado, nenhum dos locais de competições aquáticas é adequado para nadadores ou competidores em embarcações, disse ressaltou Kristina Mena. Atletas que ingerirem três colheres de chá de água têm uma chance de 99% de ser infectados por vírus.
Essa avaliação foi corroborada pelo virologista brasileiro Fernando Spilki, coordenador do programa de qualidade ambiental da Universidade Feevale no sul do Brasil, a mesma consultada no primeiro estudo realizado pela agência, que realiza testes mensais para a AP.
“As amostras das raias das provas de iatismo e de dentro da Lagoa provam que os vírus estão presentes mesmo longe da costa, longe das fontes de poluição, e que mantêm cargas virais extremamente altas”, disse ele.
Atletas reclamam
O velejador olímpico alemão Erik Heil, de 26 anos, entrevistado pela AP, afirmou que planeja sair da Marina da Glória durante as competições usando um macacão de plástico para proteger o corpo e tirá-lo depois de passar com segurança pelas águas próximas à costa.
O velejador olímpico alemão Erik Heil, de 26 anos, entrevistado pela AP, afirmou que planeja sair da Marina da Glória durante as competições usando um macacão de plástico para proteger o corpo e tirá-lo depois de passar com segurança pelas águas próximas à costa.
Heil afirma que precisou se tratar em um hospital de Berlim por causa da infecção por MRSA, uma bactéria que destrói tecidos, pouco tempo depois de passar por um evento-teste no Rio para os Jogos de 2016. Pelo resultados dos novos exames realizados pela agência, a estratégia do atleta não funcionaria para evitar uma contaminação.
Durante as competições, os atletas tentaram usar truques para evitar doenças, que iam desde passar água sanitária nos remos, tomar um banho de mangueira ou até se prevenir tomando antibióticos antes de ficar doentes, o que não teria nenhum efeito no caso de vírus.
Apesar dos esforços, alguns atletas ainda adoeceram nos eventos-teste realizados em agosto. A Federação Internacional de Remo informou que 6,7% dos 567 remadores ficaram doentes em um Campeonato Júnior realizado no Rio.
A Federação Internacional de Iatismo disse que pouco mais de 7% dos velejadores que competiram em um evento-teste olímpico na Baía de Guanabara no meio de agosto também adoeceram – mas a federação não fez um acompanhamento de quantos atletas ficaram doentes nas duas semanas seguintes à competição, que é o período de incubação aproximado para muitas doenças que poderiam ter sido causadas pelo contato ou ingestão da água.
Estudo anterior
Em julho, a Associated Press já tinha divulgado uma primeira rodada de testes, que mostrou a presença de vírus patogênicos — que causam doenças — em níveis um milhão e setecentas mil vezes acima do considerado alarmante nos Estados Unidos e na Europa.
Em julho, a Associated Press já tinha divulgado uma primeira rodada de testes, que mostrou a presença de vírus patogênicos — que causam doenças — em níveis um milhão e setecentas mil vezes acima do considerado alarmante nos Estados Unidos e na Europa.
O primeiro estudo, que levou em consideração quatro rodadas de testes em três locais de competição – Marina da Glória, Praia de Copacabana e Lagoa –, e também na água que alcança a areia da Praia de Ipanema, frequentada por turistas, indicaram alta contagem de adenovírus humanos ativos e infecciosos em algumas amostras.
Autoridades brasileiras, olímpicas e da Organização Mundial da Saúde dizem que o Brasil precisa fazer apenas testes de marcadores bacterianos para determinar a qualidade da água: esse é o padrão em vários países. Entretanto, comunidades científicas dos Estados Uidos e da Europa vem pressionando para que a legislação passe a exigir também testes virais da água, que muitas vezes têm níveis bacterianos aceitáveis, mas virais não. O estudo realizado pela AP repercutiu em veículos de comunicação em todo o mundo.
Especialistas em biologia e infectologia ouvidos pelo G1 na época afirmaram que pessoas que possam ingerir acidentalmente a água dos locais de competição podem ter doenças que causam diarreia e hepatite A.
O Presidente do Comitê Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman, afirmou que mesmo as condições não sendo as ideais, as competições de remo e vela deverão ser um sucesso. Ele usou os exemplos de outras competições para falar que o Rio não é a única cidade-sede a enfrentar problemas ambientais.
“Quem não se lembra de Pequim, que talvez tenha sido a pior água para os atletas do mundo inteiro. E continuam os problemas em Tindao. Sidney também teve problemas. E nos campeonatos mundiais que os atletas participam, eles também encontram problemas. A minha confiança é no trabalho do Governo do Estado do Rio, que dará as condições necessárias para as competições”, falou Nuzman.
Veja abaixo a íntegra da matéria da Associated Press:
Novo teste da água de locais de competições olímpicas no Rio mostra que ela está contaminada mesmo longe da costa
Por Brad Brooks
O velejador olímpico Erik Heil lançou uma nova ideia para se proteger das águas infestadas de esgoto em que ele e outros atletas vão competir nos Jogos do próximo ano: sair da marina com um macacão de plástico para proteger o corpo e tirá-lo depois de passar com segurança pelas águas contaminadas mais próximas da costa.
Por Brad Brooks
O velejador olímpico Erik Heil lançou uma nova ideia para se proteger das águas infestadas de esgoto em que ele e outros atletas vão competir nos Jogos do próximo ano: sair da marina com um macacão de plástico para proteger o corpo e tirá-lo depois de passar com segurança pelas águas contaminadas mais próximas da costa.
Heil, 26, teve que se tratar em um hospital de Berlim por causa de uma infecção por MRSA, uma bactéria destruidora de tecidos, pouco depois de participar de um evento-teste olímpico no Rio. Mas sua nova estratégia para evitar uma nova infecção não limitará o risco.
Uma nova rodada de testes feita pela The Associated Press mostra que as águas nos locais de competições olímpicas da cidade são tão contaminadas por patógenos longe da costa quanto mais perto da terra, onde o esgoto bruto desemboca de rios fétidos e escoadouros de águas pluviais. Isso significa que não há fator de diluição na baía ou na lagoa em que os eventos acontecerão e, portanto, não há redução do risco para a saúde dos atletas.
“Esses níveis de vírus estão disseminados. Não é só ao longo da costa, mas em toda a extensão da água, o que aumenta a exposição das pessoas que entram em contato com ela”, disse Kristina Mena, especialista em vírus transmitidos pela água e professora associada de saúde pública no Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas em Houston.
“Estamos falando de um ambiente extremo, em que a poluição é tão alta que a exposição é iminente e a probabilidade de infecção é muito grande.”
Em julho, a AP divulgou que sua primeira rodada de testes demonstrou a presença de vírus patogênicos diretamente associados a esgotos humanos em níveis até 1,7 milhão de vezes acima do que seria considerado altamente alarmante nos Estados Unidos ou na Europa.
Especialistas disseram que os atletas estavam competindo no equivalente viral a esgoto bruto e que a exposição a riscos de saúde sérios era quase certa.
Esses resultados acenderam luzes de alerta entre a comunidade atlética mundial, com autoridades esportivas prometendo fazer seus próprios testes virais para garantir a segurança das águas para competição nos Jogos do próximo ano. Essas promessas ganharam maior urgência em agosto, depois que eventos pré-olímpicos de remo e vela no Rio levaram a doenças entre os atletas em uma proporção quase duas vezes maior que o limite aceitável nos Estados Unidos para nadadores em águas de recreação.
Mesmo assim, as autoridades olímpicas e da Organização Mundial da Saúde voltaram atrás em declarações de que realizariam testes virais depois do relatório de julho da AP.
Agora, os testes mais recentes da AP mostram não só que não houve nenhuma melhora na qualidade da água, mas também que a extensão da contaminação da água é maior do que se imaginava. A contagem viral encontrada a mais de um quilômetro das margens na Baía de Guanabara, onde os velejadores competem em alta velocidade e ficam encharcados, é igual à encontrada ao longo da costa, mais perto das fontes de esgotos.
“Os níveis de vírus são tão altos nessas águas brasileiras”, disse Mena, “que, se encontrássemos esses níveis em praias aqui nos Estados Unidos, elas provavelmente seriam interditadas pelas autoridades.”
As autoridades brasileiras, olímpicas e da OMS dizem agora que o Brasil precisa fazer apenas testes de “marcadores” bacterianos de poluição para determinar a qualidade da água. Esse é o padrão de monitoração de corpos de água para as nações de todo o mundo, essencialmente porque isso sempre foi mais fácil e mais barato.
No entanto, em anos recentes, avanços tecnológicos tornaram mais simples e barato monitorar os níveis virais também.
É por isso que há muita pressão dentro das comunidades científicas dos Estados Unidos e Europa para que a legislação passe a exigir também testes virais da água. Segundo os defensores da proposta, estudos repetidos há décadas têm demonstrado pouca ou nenhuma correlação entre os níveis de patógenos bacterianos na água, que se degradam rapidamente em condições de muito sal e sol como as do Brasil tropical, e a presença de vírus, que podem persistir por meses ou, talvez, até anos.
Essa disparidade apareceu nos testes da AP no Rio, em que a água com frequência apresenta níveis seguros de bactérias fecais, mas a mesma amostra revela níveis de vírus equivalentes ao do esgoto bruto. Muitos dos locais testados apresentam também picos de contaminação bacteriana, em especial a lagoa olímpica e a marina de onde os velejadores partem.
As águas do Rio de Janeiro, como as de muitas nações em desenvolvimento, são extremamente contaminadas porque a maior parte do esgoto da cidade não é tratada, muito menos coletada. Enormes quantidades de águas residuais fluem direto para a Baía de Guanabara. A Lagoa Rodrigo de Freitas e a famosa praia de Copacabana também são fortemente contaminadas.
O Rio ganhou o direito de sediar os Jogos Olímpicos com base em um longo documento de candidatura oficial que prometia limpar as águas da cidade pela expansão da infraestrutura de saneamento básico, o que seria um dos maiores legados do evento. As autoridades brasileiras agora reconhecem que isso não vai acontecer.
Os primeiros resultados publicados pela AP foram baseados em amostras colhidas ao longo das margens da lagoa que receberá eventos de remo e canoagem.
Outras amostras foram obtidas na marina onde os velejadores entram na água e nas ondas que chegam à praia de Copacabana, local em que acontecerão as competições de maratona aquática e natação do triatlo.
A praia de Ipanema, muito frequentada por turistas e onde muitos dos 350.000 visitantes estrangeiros esperados darão um mergulho durante os Jogos, também foi testada.
Desde então, a AP expandiu seus testes para incluir amostras de locais mais afastados da costa nas raias das competições olímpicas de vela na Baía de Guanabara e no meio da lagoa onde se situaram as raias de remo e canoagem em eventos-teste recentes.
Os testes da AP não só encontraram que a lagoa e a baía estão extensamente contaminadas por vírus, como também detectaram um pico de coliformes fecais bacterianos na lagoa – mais de 16 vezes o nível permitido pela lei brasileira.
Mena, a especialista em vírus transmitidos pela água, disse que faz sentido os atletas imaginarem que a baía e a lagoa seriam mais seguras longe da costa, mas os testes não corroboram essa ideia.
“Esperaríamos ver mais flutuações nos níveis de qualquer patógeno na água”, disse ela, “mas isso não acontece ali.”
Como resultado, nenhum dos locais de competições aquáticas é adequado para nadadores ou competidores em embarcações, disse ela. Atletas que ingerirem três colheres de chá de água têm uma chance de 99% de ser infectados por vírus.
Essa avaliação foi corroborada pelo virologista brasileiro Fernando Spilki, coordenador do programa de qualidade ambiental da Universidade Feevale no sul do Brasil, que vem fazendo testes mensais para a AP.
“As amostras das raias das provas de iatismo e de dentro da lagoa provam que os vírus estão presentes mesmo longe da costa, longe das fontes de poluição, e que mantêm cargas virais extremamente altas”, disse ele.
Os atletas tentaram muitos truques e tratamentos para evitar ficar doentes, desde passar água sanitária nos remos e se prevenir com antibióticos – o que não tem nenhum efeito no caso de vírus – a simplesmente tomar um banho de mangueira assim que terminam de competir.
Apesar desses esforços, alguns atletas ainda adoeceram nos eventos-teste realizados em agosto. A Federação Internacional de Remo informou que 6,7% dos 567 remadores ficaram doentes em um Campeonato Júnior realizado no Rio.
A Federação Internacional de Iatismo disse que pouco mais de 7% dos velejadores que competiram em um evento-teste olímpico na Baía de Guanabara no meio de agosto adoeceram – mas a federação não fez um acompanhamento de quantos atletas ficaram doentes nas duas semanas seguintes à competição, que é o período de incubação aproximado para muitos dos patógenos da água.
Mena e outros especialistas dizem que é difícil comparar esses números com o contexto internacional, uma vez que cada localização geográfica tem seus riscos específicos. Mas nos Estados Unidos, por exemplo, o índice máximo de doenças em nadadores aceito pela Environmental Protection Agency é 3,6%, o que muitos especialistas já consideram alto demais.
O velejador alemão Heil foi um dos que adoeceu no evento-teste do Rio. “Nunca tive infecções nas pernas. Nunca!”, ele escreveu no blog da equipe alemã de iatismo no final de agosto enquanto passava por um tratamento doloroso para se livrar das infecções em seus quadris e pernas. “A origem deve ter sido a Marina da Glória. No futuro, vamos tentar viajar para o Rio imediatamente antes do início de qualquer evento, assim, se aparecer alguma doença, isso acontecerá quando já estivermos de volta em casa.”
Neste ano que precede as Olimpíadas, a AP está testando mensalmente amostras de água para três tipos de adenovírus humanos, além de enterovírus, rotavírus e coliformes fecais bacterianos. Os vírus infectam os tratos intestinal e respiratório humanos. Eles causam problemas respiratórios e doenças digestivas, como vômitos e diarreia explosiva, que podem afastar os atletas das competições. Danos cardíacos e cerebrais sérios também são possíveis, embora raros. Uma das análises testa a presença de adenovírus tipos 2 e 5, que são marcadores de contaminação por esgotos. Especialistas em qualidade da água dizem que uma contagem de 1.000 por litro desses vírus nos Estados Unidos ou Europa causaria alarme extremo, levando em muitos casos a interdição de praias.
Amostras de água colhidas a 600 metros da costa e na raia Pão de Açúcar de iatismo apresentaram níveis de vírus 30.000 vezes mais altos do que é considerado alarmante nos Estados Unidos e na Europa.
A raia Escola Naval, em que amostras foram colhidas a 1.300 metros da costa dentro da baía, registrou níveis virais 35.000 vezes mais altos do que esse nível de alarme. Nos testes feitos em setembro, a água deu resultado positivo para enterovírus, uma causa importante de doenças respiratórias, indisposições gastrointestinais e, com menos frequência, inflamações sérias no coração e no cérebro.
Na lagoa olímpica, uma amostra obtida a 200 metros da margem e dentro das raias de remo e canoagem apresentou contagens virais 30.000 vezes acima do nível considerado preocupante nos Estados Unidos e na Europa.
Testes subsequentes de cultura de células mostraram que os vírus da água da lagoa eram “ativos e infecciosos” – mas os das amostras colhidas nas raias de iatismo não. Mena, a especialista em avaliação de risco, disse que vários fatores inibem o crescimento de vírus em laboratório, mas o próprio número de patógenos nas águas do Rio já significa que o risco para a saúde humana é inaceitável.
As autoridades do Estado do Rio de Janeiro prometeram completar a infraestrutura da rede de esgotos perto da Marina da Glória até o final deste ano e estão fazendo progressos. Eles garantem que os locais de competições olímpicas serão seguros.
Mas os níveis elevados de patógenos ligados a esgotos que foram encontrados nas raias de iatismo longe da costa “mostram que esses vírus não vêm só da marina. Há muitos, muitos pontos por onde os esgotos entram na baía”, observou Spilki. “Esses patógenos que estamos testando, especialmente os vírus, são capazes de migrar uma longa distância pelas correntes”.
Esses pontos de poluição são principalmente as dezenas de rios que cruzam a área metropolitana do Rio de Janeiro e despejam centenas de milhões de litros de esgoto bruto na baía todos os dias. Pelas estimativas do próprio governo, apenas metade das águas residuais da cidade que fluem para a baía é tratada.
“A saúde e segurança dos atletas é sempre uma prioridade máxima e não há dúvida de que a água nos locais de competição atende aos padrões relevantes”, disse o Comitê Organizador das Olimpíadas Rio 2016 em uma declaração por e-mail na terça-feira. “A Rio 2016 segue as orientações de especialistas da Organização Mundial da Saúde, cujas diretrizes para a segurança de águas recreacionais recomendam a classificação da água por meio de um programa regular de testes da qualidade microbiana da água.”
Desde que o relatório da AP em julho expôs o sério risco para os atletas, autoridades olímpicas e da Organização Mundial da Saúde mudaram de opinião várias vezes quanto a realizar ou não seus próprios testes de carga viral. A OMS, que atua como consultora do COI, assumiu quatro posições diferentes entre julho e meados de outubro sobre a realização de testes virais.
Em um e-mail de 24 de outubro, porém, a OMS disse à AP que sua recomendação foi que as autoridades olímpicas não precisavam realizar testes virais “de rotina” e isso não significava que não estivessem “preocupados com os patógenos virais na água”, e que a qualidade e monitoração da água seriam discutidas no Brasil uma vez mais no fim de novembro.
Mel Stewart, que ganhou duas medalhas de ouro e uma de bronze em natação nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992, disse que, se sua filha fosse uma competidora em provas de natação em águas abertas no Rio, ele lhe diria para não competir.
“Uma medalha de ouro não vale pôr em risco sua saúde”, disse Stewart. “Neste momento, ainda há muitas dúvidas. Não vejo segurança. Não parece, neste ponto, que se esteja pensando nos atletas em primeiro lugar.”
Veja cronologia do caso feita pela Associated Press:
Uma análise da água dos locais de competições olímpicas no Rio de Janeiro encomendada pela The Associated Press suscitou um debate acalorado sobre a necessidade de fazer testes de carga viral e como proteger melhor a saúde dos atletas.
Esta é uma cronologia dos momentos principais desde a primeira reportagem da AP em julho:
30 de julho - A Associated Press (AP) publica seu primeiro documento baseado em dados de cinco meses de análises virais e bacterianas das águas dos locais de competições olímpicas no Rio de Janeiro. Os níveis de vírus patogênicos foram similares aos encontrados no esgoto bruto. O diretor médico do Comitê Olímpico Internacional (COI) diz em resposta que não há nenhum plano de alterar os locais de competição e que a Organização Mundial da Saúde, que atua como consultora para o COI, reafirmou às autoridades olímpicas que não havia “nenhum risco significativo para a saúde dos atletas”.
31 de julho - O governo do Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente condenam o relatório da AP como alarmista e dizem que foi injusto julgar as águas do Rio com base em contagens virais, cujos limites não são estabelecidos na legislação brasileira, ou da maioria das nações. Questionam também as qualificações do laboratório em que as amostras da AP foram analisadas. David Zee, professor de Oceanografia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que estuda a poluição da Baía de Guanabara há décadas e não teve nenhuma participação no estudo da AP, diz que “é natural que as autoridades reajam dizendo que ‘está tudo bem’, mas não está tudo bem”. Ele acrescenta que os testes da AP “foram feitos em um laboratório confiável”.
1º de agosto - A OMS diz à AP em uma declaração por e-mail que havia agora “aconselhado o COI a ampliar a base científica de indicadores para incluir vírus. A avaliação de risco deve ser revisada de acordo com os resultados de novas análises”. A Federação Internacional de Iatismo torna-se a primeira a se posicionar contra o COI e diz que vai fazer seus próprios testes virais das águas do Rio.
2 de agosto - O COI reverte sua posição. “A OMS diz que está recomendando testes virais”, declara à AP o diretor médico do COI, Dr. Richard Budgett. “Sempre dissemos que vamos seguir as orientações dos especialistas, portanto, a partir de agora, vamos solicitar que as autoridades apropriadas do Rio sigam as recomendações dos especialistas, que é fazer testes virais.”
4 de agosto - Matt Smith, presidente da Federação Internacional de Remo, diz que “junto com a OMS e o COI, vamos acompanhar o que está sendo recomendado. Vamos pedir que os testes virais sejam feitos. Se houver algum problema, vamos reagir. É nosso dever moral”.
10 de agosto - A OMS muda o discurso e diz à AP por e-mail que “não emitirá uma ‘recomendação oficial’ para testes virais.” Acrescenta que “testes virais não contribuiriam significativamente para a medição e avaliação da qualidade da água”. Isso apesar de décadas de estudos publicados pela própria OMS demonstrando pouca ou nenhuma correlação entre os níveis de marcadores bacterianos e virais na água – ou seja, que testes apenas para bactérias não dizem muito aos especialistas sobre a quantidade de vírus patogênicos em águas destinadas a recreação. Também nesse dia, a AP fica sabendo que 13 remadores americanos tiveram problemas estomacais no Campeonato Mundial Júnior de Remo, realizado nos quatro dias anteriores.
12 de agosto - O COI agora descarta testes virais nas águas do Rio. O diretor executivo dos Jogos Olímpicos, Christophe Dubi, disse que o COI seguiria as diretrizes da OMS, recomendando apenas testes bacterianos. “A OMS deixou muito claro que testes bacterianos são o que deve ser feito”, diz Dubi em uma entrevista coletiva no Rio.
14 de agosto - A OMS muda de posição outra vez. Em uma entrevista por telefone à AP, Bruce Gordon, principal especialista em segurança da água da OMS, diz que, embora testes bacterianos sejam o padrão mundial, a “OMS apoiaria a realização de testes virais adicionais para dar mais subsídios à avaliação de risco pelas autoridades e para checar e atender as preocupações suscitadas por testes independentes. Nesse caso, a medição de colifagos e vírus entéricos seria recomendável”.
15 de agosto - A Federação Internacional de Iatismo muda de posição. O Dr. Nebojsa Nikolic, principal autoridade médica da federação, diz à AP que “certamente não faremos” testes virais.
1º de setembro - Carlos Nuzman, presidente do comitê organizador das Olimpíadas do Rio, diz à AP em uma entrevista que “os testes virais serão feitos...” e acrescenta que já estão em andamento os trabalhos para definir a melhor maneira de realizar as análises virais.
1º de setembro - Carlos Nuzman, presidente do comitê organizador das Olimpíadas do Rio, diz à AP em uma entrevista que “os testes virais serão feitos...” e acrescenta que já estão em andamento os trabalhos para definir a melhor maneira de realizar as análises virais.
16 de setembro - A Federação Internacional de Natação (FINA) solicita que as autoridades olímpicas façam testes virais no Rio, de acordo com um documento interno obtido pela AP. A federação “e seu Comitê de Medicina Esportiva recomendam fortemente que testes virais sejam realizados”, diz uma carta da FINA dirigida aos organizadores dos Jogos.
16 de outubro - A OMS muda de posição mais uma vez e emite uma declaração dizendo que recomendaria apenas testes bacterianos para as Olimpíadas do Rio, afirmando que a “OMS não recomenda atualmente testes de vírus para monitoração de rotina por causa da falta de métodos padronizados e da dificuldade de interpretar os resultados.” Mário Andrada, porta-voz do comitê organizador dos Jogos Olímpicos do Rio, diz que eles consideram que estas sejam “as instruções finais para a Rio 2016” e que testes virais não serão feitos.
24 de outubro - A OMS, em uma declaração por e-mail, disse que o fato de “não recomendar testes virais ‘de rotina’ não é a mesma coisa que recomendar que o Brasil não faça nada e não significa que a OMS não esteja preocupada com patógenos virais na água. Na verdade, temos especialistas ocupados em examinar os melhores protocolos”.
Pois é... Ano Olímpico...
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