A nadadora Ana Marcela Cunha não tem problema com os holofotes.
Sente-se à vontade para adotar cores e cortes inusitados no cabelo em competições e expor parte de sua vida nas redes sociais.
Mas a nadadora já planeja aumentar esta exposição ainda este ano com uma sonhada medalha nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016, em que deve radicalizar mais uma vez o penteado.
Ana Marcela se tornou célebre ao aliar bom desempenho esportivo a uma espontaneidade pouco vista na atual geração de atletas.
Foi aos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 com 16 anos de idade e ficou com o quinto lugar na maratona aquática. Conquistou seis pódios em Campeonatos Mundiais de natação e no último ano foi eleita melhor atleta do País pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB).
Por isso é tratada como uma das favoritas à briga por medalha nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, assim como sua companheira de clube Poliana Okimoto.
E se o primeiro pódio olímpico for concretizado, a atleta baiana de 23 anos de idade espera que sua fama ultrapasse os fãs de natação e chegue aos brasileiros pouco acostumados a acompanhar as exaustivas provas da maratona aquática.
"Sei que se perder muita gente vai questionar, mas se ganhar também vou ter meu momento de 'star", disse em meio a risos. "Todo o mundo tem sua hora e também preciso aparecer para o povo saber o que faço. Se não, chega nas Olimpíadas e fica aquela dúvida de quem é essa menina, do que é a maratona. É importante mostrar para as pessoas o que é nosso esporte e como a gente vive e rala diariamente".
A confiança de Ana Marcela na briga por um lugar no pódio no Rio de Janeiro vem dos resultados do último ano. Em 2015, foi eleita a melhor atleta da modalidade pela Federação Internacional de Natação (Fina), e conquistou três medalhas no Mundial de Kazan: ouro nos 25km, prata na prova por equipes de 5km e bronze nos 10km, esta a distância olímpica.
A baiana, que também tem no currículo o tricampeonato da Copa do Mundo da modalidade, sabe que o bom desempenho recente dá esperança aos torcedores, mas tenta derrubar a expectativa por resultados específicos. E usa como exemplo Cesar Cielo, bronze nos 50m livre em Londres 2012 depois de ser campeão da prova e ficar com o terceiro lugar dos 100m em Pequim 2008.
As provas da maratona aquática ainda são marcadas pelo equilíbrio entre as atletas. No Mundial de 2015, Ana Marcela ficou com o bronze com 22 segundos de desvantagem para a campeã Aurélie Muller depois de quase duas horas nadando. A francesa subiu ao lugar mais alto do pódio ao completar os 10km em 1h58min04s3.
"Ninguém tem resultado garantido. Em Londres todo o mundo criou expectativa com o Cesão porque ele vinha sempre brigando pelo primeiro lugar. E não acho que ele tenha perdido o ouro ou a prata, mas conquistado o bronze. Apesar de ter um monte de resultados, não tinha ainda aquela medalha. É nisso que penso diariamente", explicou.
A agitada atleta de Salvador também aparece na mídia por causa do estilo extravagante no penteado. No Mundial de Kazan 2015, estava com as laterais do cabelo pintadas de roxo. Em Barcelona, dois anos antes, com uma verde e outra amarela. Já raspou, deixou comprido e até clareou apenas as pontas.
Para os Jogos, a nadadora prepara nova surpresa depois de ter entrado o ano olímpico com o cabelo descolorido para dar sorte durante os 10km de prova no mar da praia de Copacabana.
"Passei a virada com o cabelo dourado para vir essa medalhinha de ouro. Pulei as ondinhas, fiz tudo e depois já voltei ao normal. Vamos ver o que vai rolar para as Olimpíadas", afirmou.
As novidades no penteado são apenas uma demonstração da falta de medo de Ana Marcela de realizar mudanças. Seja no visual ou na preparação. A menos de um ano dos Jogos no Rio, trocou de clube, técnico e cidade. Isso depois de passar pelos anos de maior sucesso da carreira.
Em novembro, a baiana deixou o Sesi e o trabalho de três anos de sucesso ao lado de Fernando Possenti, em São Paulo, para voltar a treinar com Márcio Latuf na Unisanta, em Santos. Em 2012 ela fez o movimento inverso, deixando o técnico e o clube da baixada para viver na capital.
Latuf treina também Matheus Santana, atleta de 19 anos recordista mundial júnior dos 100m livre e um dos cotados a integrar o forte time do revezamento 4x100m do Brasil nas Olimpíadas. Apesar do trabalho voltado às provas de velocidade nos últimos anos, a baiana crê que o treinador possa levá-la ao pódio no Rio e ao almejado estrelato.
"O trabalho depende muito do atleta, não só da comissão, porque é ele que precisa saber o que é certo e errado, falar com o técnico e passar o feedback. E é isso o que a gente faz diariamente, independentemente de quem esteja à borda da piscina", garantiu a baiana.
Ana Marcela também trabalha com frequência longe da água para viabilizar o lançamento de sua marca pessoal.
Os primeiros modelos de toucas para natação já foram feitos, mas a atleta quer que até os Jogos Olímpicos outros produtos voltados aos esportes aquáticos estejam em comercialização com o desenho estilizado de um nadador, que se parece com uma onda do mar, e a frase "Quando você nada, você é tudo".
"Queria algo que tocasse o povo. É um esporte individual, então é você com você. Fizemos uma brincadeira da palavra nada com o verbo nadar e o fato de você ser tudo naquele momento", analisou.
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