O Objetivo do Comitê Paralímpico é reduzir ao máximo o impacto de mudanças de classe às vésperas da competição
Vista por muitos como uma fronteira entre a possibilidade de ser protagonista ou coadjuvante no esporte paraolímpico, a classificação funcional é uma ferramenta indispensável para estabelecer um padrão mínimo de igualdade de condições entre os competidores.
Como existem diversos tipos de deficiência, especialistas estabelecem critérios médicos e técnicos a partir dos quais determinam quem mede forças com quem.
Para evitar surpresas e mudanças no planejamento das delegações pouco antes das disputas dos Jogos Rio 2016, o Comitê Paralímpico Internacional (IPC na sigla em inglês) pretende estabelecer a categoria de todos antes de 7 de setembro de 2016, data da abertura do evento.
“A ideia é fazer com que todos os atletas passem pelos processos de classificação nas grandes competições do calendário internacional das 23 modalidades e cheguem ao Rio com status permanente. Cada mudança impacta na questão esportiva, no balizamento e até na viabilidade de uma ou outra prova. Essa é a intenção do IPC, que já funcionou de forma razoável em Londres 2012”, afirmou Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
A iniciativa é importante para evitar que situações como a vivida pelo nadador brasileiro Clodoaldo Silva, em Pequim 2008, se repitam.
Ele era da classe S4 e foi reclassificado para a S5 às vésperas de cair na piscina.
Diante de adversários com mais mobilidade, saiu dos seis ouros e uma prata em Atenas 2004 para uma prata e um bronze em 2008.
“A classificação funcional é complexa, principalmente na natação. Temos várias deficiências na mesma categoria. A cada dia estão estudando mais e conseguem coletar dados para classificações justas. Na medida em que se conhece mais a fisiologia dos atletas e as deficiências, essa questão ainda pode mudar”, afirma o atleta, que tem mobilidade reduzida nas pernas em função de uma paralisia cerebral.
No paradesporto, quanto maior a deficiência, menor o número da classe.
Na natação, a letra “S” indica swimming (em inglês) e, além disso, o nadador pode ter classificações diferentes para o estilo peito (SB) e medley (SM).
A modalidade chega a ter 14 categorias.
Equilíbrio
Cada esporte paralímpico tem um sistema próprio para definir categorias, determinadas de acordo com as habilidades funcionais e restrições de cada atleta. O processo é realizado por especialistas, os “classificadores”, e dividido em três etapas: médica, funcional e de observação.
“Em toda modalidade há três momentos. No primeiro, o atleta é avaliado clinicamente. No caso da bocha, por exemplo, são pessoas com paralisia cerebral, lesão na medula, ou distrofia muscular. Eles têm que ter um comprometimento geral, o que chamamos tetraplegia, ou tetraparalisia. Então é feita uma avaliação médica para detectar o grau desses tipos de deficiências”, afirma o coordenador de classificação funcional do CPB, Cláudio Nogueira.
Na segunda fase, os competidores passam pela avaliação motora. No caso da bocha, isso consiste em visualizar como o atleta segura, lança ou arremessa a bola. Em seguida, é feita uma combinação das duas etapas para saber em qual categoria o perfil se encaixa.
“Assim é dada uma classificação provisória. Durante a competição, que é o terceiro momento, os classificadores observam o atleta jogando, porque nem sempre a classificação técnica e clínica consegue fazer com que ele exponha o seu máximo. Finalizando a competição, é dado o resultado oficial”, explica Nogueira.
Além da categoria, o competidor ganha um status: revisão, confirmado ou inelegível, este último para os casos em que o atleta não tem o perfil da classe.
As reclassificações são comuns em pessoas jovens ou com doenças degenerativas, pois as condições da deficiência podem mudar.
No caso de cegos totais e amputados, a categoria tende a permanecer a mesma, por serem problemas definitivos.
A nadadora Susana Schnarndorf (classes S7, SB7, SM7) descobriu em 2005 que tem uma doença conhecida por MSA (múltipla falência dos sistemas, na sigla em inglês), que afeta a mobilidade.
Por ser degenerativa, as condições da atleta tendem a mudar com o tempo, o que afeta seu desempenho nas piscinas.
Hoje ela briga para estar em outra categoria.
“Comecei como S8, agora estou como S6. E tive uma piora grande nos últimos seis meses, então já foi pedida a reclassificação, que vai ser feita no início do ano que vem no Open do Rio. Até lá tenho que ficar tomando onda na cabeça, mas é um aprendizado. Tem que erguer a cabeça e treinar para dar tudo certo na Paralimpíada”, disse Schnarndorf.
Ela explica que a última classificação foi feita há um ano e meio e que a revisão é feita a cada dois anos. Uma junta médica tem que avaliar a atleta e os laudos para determinar a categoria. “Aumentou bastante a minha dificuldade de nadar. Para ficar competitiva de novo, eu tenho que ser reclassificada”, completou.
Quebra-cabeças
Mundiais e eventos-teste para os Jogos Rio 2016 também serão usados para definir as classificações. Segundo Nogueira, a necessidade de se confirmar a categoria de um atleta pode mudar os nomes da delegação brasileira para a disputa de um Mundial, por exemplo.
“A coordenação técnica conversa com a gente, vê a possibilidade de um ou outro atleta, qual a realidade dele em termos de classificação. Então, pode ser que a gente leve um atleta para que ele tenha a classe confirmada, para que não haja impacto negativo na Paralimpíada”.
De acordo com o coordenador do atletismo paralímpico brasileiro, Ciro Wincler, uma mudança de classe não interfere tanto nos treinos, mas requer ajustes no planejamento dos competidores. “O treinamento permanece a mesma coisa, mas temos que entender a nova classe e os resultados possíveis. Imaginemos uma prova com as classes seis e sete. O melhor atleta é o que está no limiar da sete. O da classe seis tem de treinar mais. Todos têm um programa pré-estabelecido de treino e os ajustes são feitos de acordo com a deficiência”.
O brasileiro Daniel Dias conquistou neste sábado o seu 5º ouro no Mundial Paraolímpico de Natação, disputado em Montreal, no Canadá.
O 'Phelps brasileiro', como é conhecido, faturou a prova dos 100 m livre S5 (limitações físico-motoras).
Qualificação de classificadores
A intenção do Comitê Paralímpico Brasileiro é cada vez mais aprimorar o trabalho dos profissionais nacional para reduzir discrepâncias com as avaliações dos classificadores internacionais. “Quando fazemos uma competição nacional, um Brasileiro, um Regional, a validade é para o país. Porém, se esse classificador tem o mesmo entendimento, a mesma competência do classificador internacional, as nossas classificações ficam próximas da realidade mundial. Quando este atleta for para uma competição no exterior, a possibilidade de mudança desfavorável é mínima”, disse Nogueira.
No Brasil, algumas competições, como os opens de atletismo e natação, servem para a classificação dos atletas para os torneios internacionais.
Fonte:Portal Brasil
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