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terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Afogamento e socorro

Como socorrer uma vítima de afogamento?

Cautela e prudência são medidas capazes de prevenir acidentes por afogamento

Vários são os motivos que podem levar a um afogamento. Até mesmo um bom nadador pode se deparar com imprevistos em um caso de afogamento, por exemplo: cãibra, mau jeito em membros, ou ondas mais fortes. Enchentes e inundações são situações que também podem resultar em acidentes, da mesma forma que uma pessoa que se joga ao mar sem saber nadar.

Ter cautela é importante. Procure não nadar com o mar agitado, não ir para áreas de maior profundidade, principalmente se não souber nadar ou se estiver sob o efeito de álcool ou drogas. Com bebês e crianças o cuidado deve ser redobrado: um bebê nunca deve ser deixado sozinho no banho, praia ou piscina.

Os danos causados pelo afogamento são muitos, a começar pela asfixia provocada pela obstrução do aparelho respiratório. Geralmente, os sinais são: agitação, dificuldade respiratória, inconsciência, parada respiratória e parada cardíaca.

Os primeiros socorros em caso de afogamento merecem alguns cuidados. Se um bombeiro salva-vidas estiver presente ele saberá quais os procedimentos corretos para resgatar a vítima, caso contrário algumas dicas importantes devem ser seguidas:




Em primeiro lugar, tente tirar a vítima da água utilizando uma corda, bóia, remo ou um pedaço de madeira;




Se não for possível e se você souber nadar muito bem entre na água e aproxime-se da vítima pelas costas, segurando-a e mantendo-a com a cabeça fora da água; tente acalmá-la e evite que ela o agarre;



Se a vítima estiver inconsciente, inicie ainda dentro da água, respiração boca-a-boca;




Retire a vítima da água de modo que o peito fique mais alto do que a cabeça;




Fora da água, coloque a vítima deitada de lado, com a cabeça mais baixa que o corpo;





Se a vítima apresentar ausência de pulso e pupilas dilatadas, inicie massagem cardíaca; para estimular a circulação massageie com força os braços e as pernas da vítima;




Aqueça a vítima com uma coberta ou com roupa seca e desloque-a para o hospital mais próximo.


Fonte: Saúde em movimento e Bombeiros emergência. Autor: Thaís Vieira e designer Pabla Vieira .
AFOGAMENTO

(texto para guarda-vidas e profissionais da área aquática)

Por David Szpilman

Em 1997, 75.000 jovens de 5 a 39 anos de idade morreram em decorrência de trauma, como primeira causa 'mortis'. Quando consideramos todas as idades, o trauma apenas mata menos do que as doenças do aparelho circulatório. Dentre os diferentes tipos de trauma, o de maior impacto no âmbito familiar é sem dúvida o 'Afogamento'. O afogamento está em sua grande maioria relacionado ao lazer familiar e é geralmente testemunhado por ela. Situações de catástrofe familiar ocorrem quando famílias inteiras se afogam juntos, por desconhecimento, ou pela tentativa infrutífera de tentar salvar uns aos outros.

A cada ano mais de 490.000 pessoas são vítimas fatais de afogamento em todo mundo, embora o total exato ainda seja desconhecido em razão de um grande número de casos desaparecidos e não notificados.

NO MUNDO

# Anualmente morrem mais de 490.000 (8.4/100.000) pessoas vítimas de afogamento.

# Mais de 10 milhões de crianças entre 1 e 14 anos de idade são internadas anualmente

e em média uma a cada 35 hospitalizações leva ao óbito.

# Na faixa de 1 a 4 anos é a 2a causa externa de morte no Brasil, EUA e África do Sul, e a 1a na Austrália.

# É a 4a causa e a 2a causa de morte em países desenvolvidos entre 5 e 14 anos de idade

# Na China é a 1a causa de morte entre 1 e 14 anos de idade – 33.872 óbitos por ano.

NO BRASIL

7.183 óbitos por afogamento (4,44/100.000 habitantes)

A faixa etária mais freqüente foi entre 20 e 29 anos (20,75%) – 10,33 masculino/feminino

· Terceira por causas externas em todas as idades.

· Estimativa anual de:

260.000 hospitalizações

Mais de 1.300.000 resgates em praias, piscinas, lagos, rios e outros.

Mais de 600 corpos não encontrados

Nos EUA, 8 casos de afogamentos ocorrem para cada caso fatal notificado. Nas praias do Rio de Janeiro observamos 290 resgates para cada caso fatal (0.34%), e um óbito para cada 10 casos que necessitaram de atendimento médico no Centro de Recuperação de Afogados (10.6%). Em 1998, a Associação Americana de Salvamento Aquático - USLA, reportou um total de 43.882 salvamentos realizados por guarda-vidas em apenas três dos maiores serviços (66% de todos os salvamentos em praias nos EUA). Em contraste, a Associação Australiana de Salvamento Aquático - ASLS, reportou 12.948 salvamentos em praias no período de 1998/99. No ano de 1999 o Grupamento Marítimo do CBMERJ (GMAR) realizou 10.949 socorros na área do Rio de Janeiro. Estes três serviços são certamente os maiores serviços de salvamento em todo mundo. É natural, portanto que deles emanem toda doutrina técnica e científica na área de salvamento, cada qual com suas peculiaridades. O que veremos neste capítulo é um resumo do conhecimento prático destes serviços.

Embora as praias sejam um grande atrativo para turistas, e o local onde ocorre o maior número de salvamentos, não é na orla e sim em águas doces onde ocorrem os maiores números de afogamentos com morte. É importante conhecermos o perfil das vítimas e as razões que facilitam o afogamento, pois nestes dados serão baseados o planejamento mais adequado e as medidas de prevenção necessárias para cada área em particular.

As maiorias dos afogados são pessoas jovens, saudáveis, com expectativa de vida de muitos anos, o que torna imperativo um atendimento imediato, adequado e eficaz, que deve ser prestado pelo socorrista imediatamente após ou mesmo quando possível durante o acidente, ainda dentro da água. É fato, portanto que o atendimento pré-hospitalar a casos de afogamento é diferenciado de muitos outros, pois necessita que se inicie pelo socorro dentro da água. Este atendimento exige do socorrista algum conhecimento do meio aquático para que não se torne mais uma vítima.

DEFINIÇÃO DE AFOGAMENTO
É a aspiração de líquido causada por submersão ou imersão. O termo aspiração refere-se a entrada de líquido nas vias aéreas (traquéia, brônquios ou pulmões), e não deve ser confundido com 'engolir água'.

MECANISMOS DA LESÃO NO AFOGAMENTO
No afogamento, a função respiratória fica prejudicada pela entrada de líquido nas vias aéreas, interferindo na troca de oxigênio (O2) - gás carbônico (CO2) de duas formas principais:
1. Obstrução parcial ou completa das vias aéreas superiores por uma coluna de líquido, nos casos de submersão súbita (crianças e casos de afogamento secundário) e/ou;
2. Pela aspiração gradativa de líquido até os alvéolos (a vítima luta para não aspirar).
Estes dois mecanismos de lesão provocam a diminuição ou abolição da passagem do O2 para a circulação e do CO2 para o meio externo, e serão maiores ou menores de acordo com a quantidade e a velocidade em que o líquido foi aspirado. Se o quadro de afogamento não for interrompido, esta redução de oxigênio levará a parada respiratória que conseqüentemente em segundos ou poucos minutos provocará a parada cardíaca.
Há alguns anos, pensava-se que os diferentes tipos de água produziam quadros de afogamento diferentes. Hoje, sabemos que os afogamentos de água doce, mar ou salobra não necessitam de qualquer tratamento diferenciado entre si.

TIPOS DE ACIDENTES NA ÁGUA
Síndrome de Imersão - A Hidrocussão ou Síndrome de Imersão (vulgarmente conhecida como 'choque térmico') é um acidente desencadeado por uma súbita exposição á água mais fria que o corpo, levando a uma arritmia cardíaca que poderá levar a síncope ou a parada cárdio-respiratória (PCR). Parece que esta situação pode ser evitada se molharmos a face e a nuca antes de mergulhar.
Hipotermia - A exposição da vítima à água fria reduz a temperatura normal do corpo humano, podendo levar a perda da consciência com afogamento secundário ou até uma arritmia cardíaca com parada cardíaca e conseqüente morte. Sabemos que todas as vítimas afogadas têm hipotermia, mesmo aquelas afogadas em nosso litoral tropical.
AFOGAMENTO - descrito adiante.

CLASSIFICAÇÃO DO AFOGAMENTO
Quanto ao Tipo de água (importante para campanhas de prevenção):
1 - Afogamento em água Doce: piscinas, rios, lagos ou tanques.
2 - Afogamento em água Salgada: mar.
3- Afogamento em água salobra: encontro de água doce com o mar.
4 - Afogamento em outros líquidos não corporais: tanque de óleo ou outro material e outros.
Quanto á Causa do Afogamento (identifica a doença associada ao afogamento):
1 - Afogamento Primário: quando não existem indícios de uma causa do afogamento.
2 - Afogamento Secundário: quando existe alguma causa que tenha impedido a vítima de se manter na superfície da água e, em conseqüência precipitou o afogamento: Drogas (36,2%) (mais freqüente o álcool), convulsão, traumatismos, doenças cardíacas e/ou pulmonares, acidentes de mergulho e outras.
Quanto á Gravidade do Afogamento (permite saber a gravidade e o tratamento):

GRAU

SINAIS E SINTOMAS

PRIMEIROS PROCEDIMENTOS

Resgate

Sem tosse, espuma na boca/nariz, dificuldade na respiração ou parada respiratória ou PCR

1. Avalie e libere do próprio local do afogamento

1

Tosse sem espuma na boca ou nariz

1. repouso, aquecimento e medidas que visem o conforto e tranqüilidade do banhista. 2. Não há necessidade de oxigênio ou hospitalização.

2

Pouca espuma na boca e/ou nariz

1. oxigênio nasal a 5 litros/min2. aquecimento corporal, repouso, tranqüilização.3. observação hospitalar por 6 a 24 h.

3

Muita espuma na boca e/ou nariz com pulso radial palpável.

1. oxigênio por máscara facial a 15 litros/min no local do acidente.2. Posição Lateral de Segurança sob o lado direito.3 - Internação hospitalar para tratamento em CTI.

4

Muita espuma na boca e/ou nariz sem pulso radial palpável

1. oxigênio por máscara a 15 litros/min no local do acidente.2. Observe a respiração com atenção - pode haver parada da respiração.3. Posição Lateral de Segurança sobre o lado direito. 4 - Ambulância urgente para melhor ventilação e infusão venosa de líquidos. 5. Internação em CTI com urgência.

5

Parada respiratória, com pulso carotídeo ou sinais de circulação presente

1. ventilação boca-a-Boca. Não faça compressão cardíaca. 2. Após retornar a respiração espontânea - trate como grau 4.

6

Parada Cárdio-Respiratória (PCR)

1. Reanimação Cárdio-Pulmonar (RCP) (2 boca-a-boca + 15 compressões cardíaca).2. Após sucesso da RCP - trate como grau 4

Já cadáver

PCR com Tempo de submersão > 1 h, ou Rigidez cadavérica, ou decomposição corporal e/ou livores.

Não inicie RCP, acione o Instituto Médico Legal.

A Classificação de afogamento permite ao socorrista estabelecer a gravidade de cada caso, indicando a conduta a ser seguida. Foi estabelecida com o estudo de casos de afogamento no Centro de Recuperação de Afogados (CRA) de Copacabana e seu acompanhamento no Hospital Municipal Miguel Couto durante 20 anos. A classificação não tem caráter evolutivo, devendo ser estabelecida no local do afogamento ou no 1o atendimento, com o relato de melhora ou piora do quadro. O primeiro passo no entendimento do processo de afogamento é diferenciarmos entre um caso de Resgate e Afogamento.
Resgate: Vítima resgatada viva da água que não apresenta tosse ou espuma na boca e/ou nariz - pode ser liberada no local do acidente sem necessitar de atendimento médico após avaliação do socorrista, quando consciente. Todos os casos podem apresentar hipotermia, náuseas, vômitos, distensão abdominal, tremores, cefaléia (dor de cabeça), mal estar, cansaço, dores musculares, dor no tórax, diarréia e outros sintomas inespecíficos. Grande parte destes sintomas é decorrente do esforço físico realizado dentro da água sob stress emocional do medo, durante a tentativa de se salvar do afogamento.
Afogamento: pessoa resgatada da água que apresenta evidencias de aspiração de líquido: tosse, ou espuma na boca ou nariz - deve ter sua gravidade avaliada no local do incidente, receber tratamento adequado e acionar se necessário uma equipe médica (suporte avançado de vida).

O PASSO-A-PASSO NO AFOGAMENTO

1. PREVENÇÃO, RECONHECIMENTO & ALARME EM AFOGAMENTO
Estas medidas podem juntas evitar mais de 85% dos casos de afogamento, e atuam não só na redução da mortalidade como também na morbidade (lesões decorrentes da doença) por afogamento. Como medida estatística, a prevenção é muito difícil de ser mensurada corretamente já que sua ação resulta em um número incontável de sucessos sem registro. A Associação Americana de Salvamento Aquático - 'USLA', estima que para cada resgate realizado existam 43 casos de prevenção realizados pelos guarda-vidas em praias. Em termos estatísticos é importante diferenciar entre medida ato de prevenção e socorro. Prevenção é qualquer medida com o objetivo de evitar o afogamento sem que haja contato físico entre a vítima e o socorrista. Socorro é toda ação de resgate em que houve necessidade de contato entre o socorrista e a vítima. Calcula-se que a possibilidade que uma pessoa tem de morrer por afogamento quando em uma praia protegida por guarda-vidas é de 1 em 18 milhões (0000055%) (USLA).

PREVENÇÃO
São as ações baseadas em advertências e avisos a banhistas no sentido de evitar ou ter cuidado com os perigos relacionados ao lazer, trabalho, ou esportes praticados na água. Embora o ato de prevenir possa aparentemente não transparecer a população como 'heróico', são eles os alicerces da efetiva redução na morbi-mortalidade destes casos.

As PRAIAs e Piscinas sÃo locais de Lazer, EVITE AFOGAMENTOS!

Aprenda a nadar a partir dos 2 anos.

Mantenha atenção constante nas crianças.

Nunca nade sozinho.

Mergulhe somente em águas fundas.

Prefira sempre nadar em águas rasas.

Não superestime sua capacidade de nadar, tenha cuidado!

PRAIAS

PISCINAS

1. Nade sempre perto de um guarda-vidas.

2. Pergunte ao Guarda-vidas o melhor local para o banho.

3. Não superestime sua capacidade de nadar - 46.6% dos afogados acham que sabem nadar.

4. Tenha sempre atenção com as crianças.

5. Nade longe de pedras, estacas ou piers.

6. Evite ingerir bebidas alcoólicas e alimentos pesados, antes do banho de mar.

7. Crianças perdidas: leve-as ao posto de guarda-vidas

8. Mais de 80% dos afogamentos ocorrem em valas

· A vala é o local de maior correnteza, que aparenta uma falsa calmaria que leva para o alto mar.

· Se você entrar em uma vala, nade transversalmente à ela até conseguir escapar ou peça imediatamente socorro.

9. Nunca tente salvar alguém em apuros se não tiver confiança em faze-lo. Muitas pessoas morrem desta forma.

10. Ao pescar em pedras - observe antes, se a onda pode alcança-lo.

11. Antes de mergulhar no mar - certifique-se da profundidade.

12. Afaste-se de animais marinhos como água-viva e caravelas.

13. Tome conhecimento e obedeça as sinalizações de perigo na praia.

1. Mais de 65% das mortes por afogamento ocorrem em água doce, mesmo em áreas quentes da costa.

2. Crianças devem sempre estar sob a supervisão de um adulto. 89% das crianças não tem supervisão durante o banho de piscina.

3. Leve sempre sua criança consigo caso necessite afastar-se da piscina

4. Isole a piscina – tenha grades com altura de 1.50 mts e 12 cm entre as verticais. Elas reduzem o afogamento em 50 a 70%.

5. Bóia de braço não é sinal de segurança - cuidado !.

6. Evite brinquedos próximo a piscina, isto atrai as crianças.

7. Desligue o filtro da piscina em caso de uso.

8. Use sempre telefone sem fio na área da piscina.

9. Não pratique hiperventilação para aumentar o fôlego sem supervisão confiável.

10. Cuidado ao mergulhar em local raso (coloque aviso)

11. 84% dos afogamentos ocorrem por distração do adulto (hora do almoço ou após)

12. Mais de 40% dos proprietários de piscinas não sabem realizar os primeiros socorros - CUIDADO !.


Na praia a corrente de retorno (vala) é o local de maior ocorrência de afogamentos (mais de 85% dos casos). É formada por toda massa de água em forma de ondas que quebra em direção a areia e por gravidade tem que retornar ao oceano. No seu retorno a água escolhe o caminho de menor resistência para retornar, aprofundando cada vez mais aquele local, formando um canal que literalmente 'puxa' para alto mar. Esta corrente de retorno possui três componentes principais, a saber:
* A boca: fonte principal de retorno da água
* O pescoço: parte central do retorno da água em direção ao mar.
* A cabeça: área em forma de cogumelo onde se dispersa a correnteza.

Sempre que houver ondas, haverá uma corrente de retorno. Sua força varia diretamente com o tamanho das ondas. Pode atingir até 2 a 3 mt/seg.

Para reconhecer uma corrente de retorno (vala), observe:
* Que geralmente aparece entre dois locais mais rasos (bancos de areia).
* Que se apresenta como o local mais escuro e com o menor número ou tamanho nas ondas.
* Que é geralmente o local onde aparenta maior calmaria.
* Que apresenta uma movimentação a superfície ligeiramente ondulada em direção contrária as outras ondas que quebram na praia.

RECONHECIMENTO DE UM AFOGAMENTO
Identificar um caso de afogamento antes ou durante a sua ocorrência possibilita tomar atitudes mais precocemente e evitar o agravamento da situação. Preste mais atenção nas pessoas ao seu redor na praia ou piscina e antecipe as pessoas que podem se afogar.

Fora da água
* Pessoas nos extremos da idade - muito jovens ou velhos. Portanto os mais jovens não devem ir a água sem a supervisão de um adulto.
* Pessoas obesas ou com aparência cansada - são pessoas geralmente sem boas condições físicas.
* Alcoolizados - são pessoas com a capacidade reduzida de avaliação do perigo e, portanto com menor prudência.
* Pessoas com objetos flutuantes - devem ser observados com muita atenção, pois são confiantes e capazes apenas com o objeto.
* Turistas, imigrantes ou estranhos ao ambiente - são pessoas que não tem noção do perigo no local e devem ser alertadas: Cor da pele: muito branca, ou o tipo de bronzeamento ou tonalidade de pele marcada por camiseta. Pelo modo inadequado; de se vestir para a praia (calça comprida, bermuda de brim, camisa quente, casaco, tênis); para o esporte a ser realizado (roupa de mergulho para o surf, óculos de natação para o mergulho, jogando vôlei com bola de futebol). Pelo equipamento que carrega: usando bóia de pneu; 'surfista' com a prancha quebrada, sem parafina, ou amarelada do sol, ou vestido com o neoprene na areia quente. Pelo comportamento na praia tipo estranho no ninho: forma de se deitar na areia; brincadeiras de rolar na areia; o local que escolhe para ficar na praia (perto a uma corrente de retorno); não observa as sinalizações de perigo; o sotaque; o modo como olha o mar com espanto; pessoas chegando a praia em grupos grandes.

Dentro da água
* O banhista com potencial para o afogamento: Entra na água de forma estranha; eufórico na água com brincadeiras espalhafatosas; Escolhe a vala para se banhar; Nada com estilo errado; Fica destacado da maioria das pessoas, boiando na água; Olha para areia constantemente da água; Perde sua prancha e fica desesperado; Namora na água; Não tem idade para entrar em determinado mar; Mergulha, sai da água ou fura as ondas de forma estranha; Leva caixotes seguidos na beira e permanece na água cheio de areia na sunga; Brinca na água ou na corrente de retorno de costas para a onda; Nada a favor da corrente lateral ou de retorno (perigo iminente); Tem um comportamento assustado quando vem uma onda maior; Assusta-se ou corre quando pisa na água; Tampa o nariz quando afunda a cabeça na água.
* Sinais de uma vítima já se afogando: Expressão facial assustada ou desesperada; Perdendo o pé na água perto de uma corrente de retorno - afunda e volta a flutuar em pé; Onda encobre o rosto da vítima que olha para a areia; Nada, mas não sai do lugar; Nada contra a força da correnteza; Vítima que nada em pé sem bater as pernas; Vítima com o cabelo caindo na face; Vítima batendo os braços na água sem deslocamento.
'Você pode salvar muitas vidas sem entrar na água, apenas use o seu bom censo no reconhecimento destas potenciais vítimas. Oriente-as sempre a se banhar próximo a um posto de salvamento e a obter informações com o guarda-vidas de qual o melhor local para o banho'

ALARME (SOLICITANDO SOCORRO)
* Reconheça a necessidade de socorro.
* Chame por ajuda ou peça a outro para faze-lo (ligue 193) ou avise alguém antes de tentar qualquer tipo de socorro.
* Jamais tente socorrer a vítima se estiver em dúvida. Socorristas podem morrer junto com a vítima se estiverem despreparados.

2. O SOCORRO NA ÁGUA

Se você for a vítima
* Mantenha a calma - a maioria das pessoas morrem por conta do desgaste muscular desnecessário na luta contra a correnteza.
* Mantenha-se apenas flutuando e acene por socorro. Só grite se realmente alguém puder lhe ouvir, caso contrário você estará se cansando e acelerando o afogamento. Acenar por socorro geralmente é menos desgastante e produz maior efeito.
* No mar, uma boa forma de se salvar é nadar ou deixar se levar para o alto mar, fora do alcance da arrebentação e a favor da correnteza, acenar por socorro e aguardar. Ou se você avistar um banco de areia, tentar alcança-lo.
* Em rios ou enchentes, procure manter os pés à frente da cabeça, usando as mãos e os braços para dar flutuação. Não se desespere tentando alcançar a margem de forma perpendicular tente alcança-la obliquamente, utilizando a correnteza a seu favor.

Se você for o socorrista - cuidado para não se tornar a vítima!
* Decida o local por onde irá atingir ou ficar mais próximo da vítima.
* Tente realizar o socorro sem entrar na água
o Se a vítima se encontra a menos de 4 m (piscina, lagos, rios), estenda um cabo, galho, cabo de vassoura para a vítima. Se estiver a uma curta distancia, ofereça sempre o pé ao invés da mão para a ajudar - é mais seguro.
o Se a vítima se encontra entre 4 e 10 m (rios, encostas, canais), atire uma bóia (garrafa de 2 litros fechada, tampa de isopor, bola), ou amare-a a uma corda e atire a vítima segurando na extremidade oposta.
o Deixe primeiro que a vítima se agarre ao objeto e fique segura. Só então a puxe para a área seca.
o Se for em rio ou enchentes, a corda poderá ser utilizada de duas formas: Cruzada de uma margem a outra obliquamente, de forma que a vítima ao atingi-la será arrastada pela corrente à margem mais distante; ou fixando um ponto a margem e deixando que a correnteza arraste-a para mais além da mesma margem.
* Se você decidiu entrar na água para socorrer:
o Avise a alguém que você tentará salvar a vítima e que chame socorro profissional.
o Leve consigo sempre que possível algum material de flutuação (prancha, bóia, ou outros).
o Retire roupas e sapatos que possam pesar na água e dificultar seu deslocamento. É válida a tentativa de se fazer das calças um flutuador, porém isto costuma não funcionar se for sua primeira vez.
o Entre na água sempre mantendo a visão na vítima.
o Pare a 2 m antes da vítima e lhe entregue o material de flutuação. Sempre mantenha o material de flutuação entre você e a vítima.
o Nunca permita que a vítima chegue muito perto, de forma que possa lhe agarrar. Entretanto, caso isto ocorra, afunde com a vítima que ela lhe soltará.
o Deixe que a vítima se acalme, antes de chegar muito perto.
o Se você não estiver confiante em sua natação, peça a vítima que flutue e acene pedindo ajuda. Não tente reboca-la até a borda da piscina ou areia, pois isto poderá gastar suas últimas energias.
o Durante o socorro, mantenha-se calmo, e acima de tudo não se exponha ou ao paciente a riscos desnecessários.

3. O SUPORTE BÁSICO DE VIDA DENTRO DA ÁGUA
Em vítimas inconscientes, a checagem da ventilação e se necessário a realização do boca-a-boca ainda dentro da água, aumenta a sobrevida sem seqüelas em 3 vezes. O socorrista deve saber realizar os primeiros socorros ainda dentro da água. Com a estimativa de que o tempo de retorno à área seca pode ser de 3 a 10 vezes maior do que o tempo para atingir a vítima, o conhecimento técnico do suporte básico de vida ainda dentro da água, encurta o tempo de hipoxemia (baixa do oxigênio no sangue) restaurando mais precocemente a ventilação e a oxigenação desta vítima. A preciosa economia destes minutos pode ser a diferença entre a vida e a morte do afogado.
* Reconheça o nível de consciência. Se consciente, não há necessidade de suporte de vida dentro da água, somente quando chegar na areia. Se inconsciente,
* Reconheça se há parada respiratória ainda dentro da água
- Só deve ser realizada com 2 socorristas sem material ou com um socorrista com material de flutuação.
- Em casos de inconsciência, um sustenta a vítima e o outro checa a respiração.
- Em caso de ausência de respiração - realize o boca-a-boca até chegar a areia da praia ou a borda de uma piscina. Esta medida evita a progressão da parada respiratória (grau 5) para uma PCR (grau 6).
- Em caso de Traumatismo Raqui-Medular (TRM) o cuidado com a coluna cervical e sua imobilização pode ser a diferença entre uma vida saudável e a paralisia definitiva dos 4 membros (tetraplegia). Em praias, a possibilidade de TRM é de 0.009% dos resgates realizados. Portanto nestas situações só imobilize se houver forte suspeita de trauma cervical. Em contrapartida, os casos de afogamento em águas turvas, piscinas e águas rasas têm uma incidência maior, e deve ser avaliado caso a caso dependendo do local. Embora várias situações possam determinar a perda da consciência em águas rasas, a prioridade é trata-la como se fosse um TRM, de forma a prevenir uma lesão maior (veja mais adiante em TRM dentro da água).
- Causas de inconsciência em águas rasas: TRM, Traumatismo Craneo-Encefálico (TCE), mal súbito (infarto Agudo do Miocárdio (IAM), convulsão, lipotímia, hidrocussão (choque térmico)), e afogamento primário em que a vítima foi parar em águas rasas.

Métodos de ventilação dentro da água
Sem equipamento - só é recomendável com dois guarda-vidas ou com um guarda-vidas em água rasa.

Com equipamento - Pode ser realizado com apenas um guarda-vidas. O tipo de material deve ser escolhido conforme o local do resgate. O material de flutuação deve ser utilizado no tórax superior, promovendo uma espontânea hiperextensão do pescoço e a abertura das vias aéreas.


4. TRAUMATISMO RAQUI-MEDULAR (TRM) EM ACIDENTES AQUÁTICOS
O número de casos de TRM entre todos os socorros aquáticos realizados na área da Barra da Tijuca entre os anos de 1991 e 2000 foi de 0,009%. Portanto o número de TRM em nossa orla não justifica que todo resgate de afogado seja tratado com imobilização cervical, pelo contrário só indica o cuidado com a coluna cervical apenas em situações especiais, e em locais onde sua freqüência é maior pelas características do litoral.
Pensar em TRM dentro da água, quando:
* Qualquer vítima se afogando em local raso.
* Qualquer vítima poli-traumatizada dentro da água - acidente de barco, aeroplano, avião, prancha, moto-aquática e outros.
* Vítima testemunhada ou com história compatível com trauma cervical, craniano ou torácico superior dentro da água.
* Mergulhos de altura na água - trampolim, cachoeira, quebra-mar, pontes e outros.
* Mergulho em águas rasas (mergulho ou cambalhotas na beira da água).
* Surf de prancha, ou de peito.
* Traumatismos em embarcações.
* Queda em pé (desembarque de barco em água escura).
* Esportes radicais na água.
* Sintomas e sinais sugestivos de TRM
* Dor em qualquer região da coluna vertebral.
* Traumatismo facial ou de crânio.
* 'Formigamento' (anestesia) ou paralisia de qualquer parte do corpo abaixo do pescoço.
* Lembre-se que 17% dos pacientes com lesões de coluna são encontrados na cena ou chegam ao hospital por seus próprios meios - Não hesite em imobilizar se houver dúvida.

CUIDADOS NO TRM DENTRO DA ÁGUA (Szpilman 2003)

TÉCNICAS PARA RESGATE E IMOBILIZAÇÃO DA COLUNA CERVICAL
Sem Equipamento - 'Técnica GMAR'
Com equipamento - prancha de imobilização com 'red-block' e colar cervical.

5. O TRANSPORTE - A TRANSIÇÃO DA ÁGUA PARA AREIA
O transporte ideal da água para a areia é a técnica Australiana. Este tipo de transporte reduz a incidência de vômitos e permite manter as vias aéreas permeáveis durante todo o transporte.
* Coloque seu braço esquerdo por sob a axila esquerda da vítima e trave o braço esquerdo.
* O braço direito do socorrista por sob a axila direita da vítima segurando o queixo de forma a abrir as vias aéreas, desobstruindo-as, permitindo a ventilação durante o transporte.
Em casos suspeitos de trauma cervical, utilize sempre que possível à imobilização da coluna cervical durante o transporte até a areia ou a borda da piscina. Quando possível utilize uma prancha de imobilização e colar cervical, ou improvise com prancha de surf.



6. ABORDAGEM DA VÍTIMA NA AREIA ou na BORDA DA PISCINA
1o - Ao chegar na areia, coloque o afogado em posição paralela a água, de forma que o socorrista fique com suas costas voltada para o mar, e a vítima com a cabeça do seu lado esquerdo.
* A cabeça e o tronco devem ficar na mesma linha horizontal.
* A água que foi aspirada durante o afogamento não deve ser retirada, pois esta tentativa prejudica e retarda o início da ventilação e oxigenação do paciente, alem de facilitar a ocorrência de vômitos.
* Cheque a resposta da vítima perguntando, 'Você está me ouvindo?'


2o - Se houver resposta da vítima ela está viva, e indica ser um caso de resgate ou grau 1, 2, 3, ou 4. Coloque em posição lateral de segurança e aplique o tratamento apropriado para o grau de afogamento.

Avalie então se há necessidade de chamar o CRA (ambulância) e aguarde o socorro chegar.
Se não houver resposta da vítima (inconsciente) - Ligue 193 ou peça a alguém para chamar o CRA ou os Bombeiros, e;
3o - Abra as vias aéreas, colocando dois dedos da mão direita no queixo e a mão esquerda na testa, e estenda o pescoço;


4o - Cheque se existe respiração - ver, ouvir e sentir - ouça e sinta a respiração e veja se o tórax se movimenta.

Se houver respiração é um caso de resgate, ou grau 1, 2, 3, ou 4. Coloque em posição lateral de segurança e aplique o tratamento apropriado para grau.
5o - Se não houver respiração - inicie a ventilação boca-a-boca - Obstrua o nariz utilizando a mão (esquerda) da testa, e com os dois dedos da outra mão (direita) abra a boca e inicie a primeira ventilação boca-a-boca observando a elevação do tórax, e logo em seguida a seu esvaziamento faça uma segunda ventilação,

e:
6o - Palpe o pulso arterial carotídeo ou cheque sinais de circulação (movimentos ou reação à ventilação) - Coloque os dedos (indicador e médio) da mão direita no 'pomo de adão' e escorregue perpendicularmente até uma pequena cavidade para checar a existência ou não do pulso arterial carotídeo ou simplesmente observe movimentos na vítima ou reação a ventilação feita.


7o - Se houver pulso, é uma de parada respiratória isolada - grau 5, mantenha somente a ventilação com 12 a 16 vezes por minuto até o retorno espontâneo da respiração.
Se não houver pulso ou sinais de circulação, retire os dois dedos do queixo e passe-os pelo abdômen localizando o encontro das duas últimas costelas, marque dois dedos, retire a mão da testa e coloque-a no tórax e a outra por sobre a primeira e inicie 15 compressões cardíaca externa.

A velocidade destas compressões deve ser de 100 vezes em 60 segundos. Em crianças de 1 a 9 anos utilize apenas uma mão para as compressões. Mantenha alternando 2 ventilações e 15 compressões, e não pare até que:
a - Haja resposta e retorne a respiração e os batimentos cardíacos. Coloque então a vítima de lado e aguarde o socorro médico solicitado;


b - Você entregue o afogado a uma equipe médica; ou
c - Você fique exausto.
Assim, durante a RCP, fique atento e verifique periodicamente se o afogado está ou não respondendo, o que será importante na decisão de parar ou prosseguir nas manobras. Existem casos descritos de sucesso na reanimação de afogados após 2 horas de manobras e casos de recuperação sem danos ao cérebro até 1 hora de submersão.
* Sempre inicie todo processo com apenas um socorrista, para então após 2 a 3 ciclos completos de RCP, iniciar a alternância com dois socorristas.
* Os socorristas devem se colocar lateralmente ao afogado e em lados opostos.
* Aquele responsável pela ventilação deve cuidar da verificação do pulso no período da compressão e durante a parada para reavaliação, e de manter as vias aéreas desobstruídas.
* Em caso de cansaço realize a troca rápida de função com o outro.
* Mesmo com dois socorristas, a relação da RCP será 2:15.
* Após os primeiros 4 ciclos completos de compressão e ventilação, reavalie a ventilação e os sinais de circulação. Se ausente, prossiga a RCP e interrompa-a para nova reavaliação a cada 3 a 5 minutos.
A RCP deve ser realizada no local do acidente, pois é aonde a vítima terá a maior chance de sucesso. Nos casos do retorno da função cardíaca e respiratória acompanhe a vítima com muita atenção, durante os primeiros 30 minutos, até a chegada da equipe médica, pois ainda não esta fora de risco de uma nova parada cárdio-respiratória.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
* Nos casos onde não houver efetividade da manobra de ventilação boca-a-boca, refaça a hiperextensão do pescoço e tente novamente. Caso não funcione, pense em obstrução por corpo estranho e execute a manobra de Heimlich.
* As próteses dentárias só devem ser retiradas caso estejam dificultando a ventilação boca-a-boca.
* O ar atmosférico é uma mistura gasosa que apresenta cerca de 21% de O2 em sua composição. Em cada movimento respiratório gastamos cerca de 4% desse total, restando 17% de O2 no ar expirado pelo socorrista. Esta quantidade de O2 é suficiente para a ventilação boca-a-boca ser considerado o mais eficiente método em ventilação artificial de emergência.

QUANDO VALE A PENA TENTAR A RCP EM AFOGAMENTO?
O tempo é fator fundamental para um bom resultado na RCP, e os casos de afogamento apresentam uma grande tolerância a falta de oxigênio, o que nos estimula a tentar a RCP além do limite estabelecido para outras patologias. Inicie a RCP em:

1. Todos os afogados em PCR com um tempo de submersão inferior à 1 hora - Três fatos juntos ou isolados explicam o maior sucesso na RCP de afogados - o 'Reflexo de mergulho', a continuação da troca gasosa de O2 - CO2 após a submersão, e a hipotermia. O Centro de Recuperação de Afogados (CRA) tem registrado 13 casos de PCR com submersão maior do que 7 minutos, sendo 8 com mais de 14 minutos ressuscitados com sucesso.8
2. Todos os casos de PCR que não apresentem um ou mais dos sinais abaixo;
* Rigidez cadavérica
* Decomposição corporal
* Presença de livores

QUANDO PARAR AS MANOBRAS DE RCP EM AFOGADOS?
10 - Se houver resposta e retornar a função respiratória e os batimentos cardíacos;
20 - Em caso de exaustão dos socorristas, ou;
30 - Ao entregar o afogado a uma equipe médica.
Assim, durante a RCP, fique atento e verifique periodicamente se o afogado está ou não respondendo, o que será importante na decisão de parar ou prossegui-las. Existem casos descritos de sucesso na reanimação de afogados após 2 horas de manobras.
Para a equipe médica, a ressuscitação deve ser encerrada apenas quando a vítima estiver com temperatura corporal acima de 34oC e mantiver-se com ritmo em assistolia. Caso contrário a ressuscitação deverá ser mantida.

7. O USO DE EQUIPAMENTOS E OXIGÊNIO NA VENTILAÇÃO DO AFOGADO
O guarda-vidas no trabalho de praia recebe suporte de atendimento médico avançado através de ambulâncias aparelhadas com equipamentos tipo UTI, que chegam ao local do acidente em um tempo médio de 12 minutos. Para aqueles guarda-vidas ou socorristas que trabalhem em locais em que o acesso a uma ambulância ou socorro médico ultrapasse o tempo médio de 15 minutos, o uso do oxigênio e equipamentos para a ventilação no local são uma necessidade ao lidar com os casos de afogamento, tendo as seguintes vantagens:
* Aumenta a concentração de oxigênio no sangue e nas células, aumentando a performance do atendimento às vítimas com melhora das chances de sobreviver ao afogamento.
* O uso de máscara facial (oro-nasal) diminui o risco de transmissão de doenças.
Vimos que o afogamento prejudica diferentes etapas na obtenção do elemento fundamental a vida que é o oxigênio. A água aspirada pode obstruir totalmente ou parcialmente a faringe, pode atingir os alvéolos onde impede totalmente (raro) ou parcialmente (freqüente) a troca de oxigênio (hematose), ou ainda o afogado pode ter realizado esforço tão violento na tentativa de se salvar que sua força muscular para respirar pode esgotar-se parando o próprio esforço de respirar. O afogamento é definido como a entrada de água em vias aéreas (aspiração), e isto pode ocorrer em quantidade mínima (grau 1) ou extrema (4 a 6), o que vai acarretar na variação da dificuldade na troca de oxigênio no pulmão. Quanto maior a quantidade de água aspirada maior a dificuldade na hematose e mais grave a hipoxemia resultante. Temos então:
* Nos casos de afogamento onde não há hipóxia (resgate e grau 1), as alterações na respiração e a taquicardia são resultados do exercício físico violento realizado para se salvar, e normalizam rapidamente com o repouso de 5 a 10 minutos.
* Nos casos de afogamento grau 2 a 6 há hipoxemia.
* Quanto maior o grau de afogamento, mais grave será a falta de oxigênio nas células.
* Quanto maior o grau de afogamento, mais rápido e em maior quantidade o oxigênio deve ser administrado.
* A respiração ofegante e a taquicardia são encontradas em todos os casos de afogamento. Aquelas decorrentes do esforço físico sem hipoxemia (resgate e grau 1) cedem em 5 a 10 minutos, ao contrário daquela decorrente de hipoxemia que só cedem com o uso de oxigênio (grau 2 a 6).
Existe no mercado uma grande infinidade de equipamentos que permitem a utilização de oxigênio. Descrevemos resumidamente a seguir o material utilizado pelos profissionais de saúde no ambiente pré-hospitalar (em maleta), em casos de afogamento. O uso de equipamentos mais avançados e importantes como a entubação oro-traqueal e o uso de respiradores artificiais não serão abordados neste capítulo.

a) Cateter Nasal ou Nasofaringeo de O2 - Tubo simples de material plástico que é aplicado no nariz com duas saídas para as duas narinas ou cateter com saída única a ser introduzido em uma narina a profundidade aproximada de 5 a 8 cm até a orofaringe. Fornece quantidades de O2 menores que as máscaras. Deve ser utilizado apenas no grau 2.
Quantidade média de O2 fornecido em um adulto.
* 1 litro/min = +/- 24% de O2
* 2 litro/min = +/- 28% de O2
* 3 litro/min = +/- 32% de O2
* 4 litro/min = +/- 36% de O2
* 5 litro/min = +/- 40% de O2

b) Máscara oro-nasal com entrada de O2 (Ideal para socorristas) - Pode ser utilizada para ofertar O2 a vítimas que ainda estejam respirando como nos casos de afogamento grau 3 e 4. Pode ainda ser utilizada para fornecer a ventilação boca-a-boca/máscara em vítimas com parada respiratória ou PCR (afogamento grau 5 ou 6) e ainda permitir ofertar O2. Nestes casos se conectado a 15 litros/min pode ofertar até 60% com o boca-a-boca/máscara ao invés dos 17% quando não se utiliza o O2 acoplado à máscara. Possui ainda uma válvula unidirecional que só permite a saída do ar para fora da máscara impedindo que o socorrista entre em contato com o ar expirado da vítima, assim como vômitos. Pode ofertar de 35 a 60% de oxigênio inspirado.

c) Máscara oro-nasal + bolsa auto-inflável - É composto da máscara oro-nasal descrita acima e uma bolsa auto-inflável que se enche automaticamente através de uma válvula em seu corpo que permite o enchimento com o ar ambiente, ou com oxigênio, se conectado a um cilindro de O2. A vantagem da máscara utilizada com a bolsa auto-inflável é a não necessidade de se realizar o boca-a-boca/máscara reduzindo o desgaste do socorrista e de possibilitar maiores frações de O2 a vítima, podendo atingir até 75% de O2. Se utilizada com um reservatório sem reinalação pode ofertar até 90%. A desvantagem é o difícil acoplamento a face da vítima, necessitando usualmente de dois socorristas somente para a ventilação.
d) Cilindro portátil de O2 com 400 litros - Contem oxigênio a 100%, na forma líquida sob pressão. Permite uma autonomia de fornecer 15 litros por minuto durante no mínimo 20 minutos. Tempo este considerado suficiente para que a vítima seja atendida pelo socorro avançado de vida. Nos casos onde o acesso a um hospital ou ambulância seja superior a 40 minutos, é preferível ter mais de um cilindro portátil ao invés de um com maior capacidade. O cilindro de oxigênio tem sempre a cor verde, pode ser feito de alumínio ou aço, e deve ser testado a cada dois anos. Para sua utilização deve possuir registro (abre e fecha o oxigênio), um regulador (existem diferente tipos no mercado) que reduz a pressão do cilindro a pressões seguras para uso permitindo regular a quantidade de O2 a ser administrado (1 a 25 litros/min). Uma descrição mais detalhada sobre o assunto é realizada em outra parte deste manual.

Material obrigatório do Guardião de Piscina
* Cilindro de O2 com registro,
* Chave de fixação do regulador,
* Manômetro,
* Regulador de Fluxo Constante ou Fluxômetro,
* Equipo de oxigênio, e
* Cateter nasal de O2 e máscara oro-nasal que permita o boca-a-boca/máscara com entrada de oxigênio.
Cuidados com os equipamentos de ventilação e oxigênio
* Mantenha sempre o material em locais com pouca umidade
* Mantenha o material em boas condições de limpeza.
* Só utilize o equipamento (cilindro) com oxigênio (O2).
* Lembre-se que o oxigênio sob alta pressão é um produto que facilita muito a combustão. Tenha certeza de não utilizar óleo ou graxa ou lubrificantes no cilindro, e evite o sol ou a abertura rápida do registro do cilindro, pois pode provocar faísca.
* Não o utilize perto do calor ou fogo
* Não fume perto do equipamento
* Evite expor o cilindro a temperaturas > 520C como, por exemplo, na área da piscina com sol.

Afogamento e suas indicações de oxigênio
* Grau 2 - Cateter de O2 nasofaringeo a 5 litros/min até chegar a ambulância ou transporte ao hospital.
* Grau 3 e 4 - Máscara oronasal de O2 a 15 litros/min. Nos casos grau 4 fique atento a possibilidade de uma parada respiratória.
* Grau 5 - Ventilação boca-a-boca como primeiro procedimento. Não perca tempo tentando fazer O2 - inicie imediatamente o boca-a-boca. A máscara oro-nasal de O2 a 15 litros/min pode ser utilizada caso haja outro socorrista disponível para traze-la - realize então o boca-a-boca/máscara com 15 litros/min. Após o retorno da ventilação espontânea utilize 15 litros de O2 /minuto sob máscara.
* Grau 6 - Reanimação cardio-pulmonar. Não perca tempo iniciando O2. Inicie primeiro a RCP e só então se houver disponibilidade de pessoas para ajudar utilize o O2. Após sucesso na reanimação trate como grau 4.

8. COMPLICAÇÕES
O vômito é o fator de maior complicação nos casos de afogamento onde existe inconsciência. A sua ocorrência deve ser evitada utilizando-se as manobras corretas:
* Utilize o transporte tipo Australiano da água para a areia - evite o transporte tipo Bombeiro.
* Posicione o afogado na areia com a cabeça ao mesmo nível que o tronco - Evite coloca-lo inclinado de cabeça para baixo.
* Desobstrua as vias aéreas antes de ventilar - Evite exagero nas insuflações boca-a-boca, evitando distensão do estômago.
* Em caso de vômitos, vire a face da vítima lateralmente, e rapidamente limpe a boca. Em caso de impossibilidade desta manobra utilize a manobra de Sellick. Ela evita o vômito pela compressão do esôfago.
* Lembre-se que, o vômito é o pior inimigo do socorrista.

9. CONDUTA DO GUARDA-VIDAS APÓS O RESGATE AQUÁTICO
O guarda-vidas enfrenta diariamente a dúvida de quando chamar o socorro médico e quando encaminhar a vítima ao hospital após o resgate. Em casos graves a indicação da necessidade da ambulância e/ou do hospital é óbvia, porém casos menos graves sempre ocasionam dúvidas. Após o resgate e o atendimento inicial o guarda-vidas tem resumidamente 3 possibilidades:

1. Liberar a vítima sem maiores recomendações.
a) Vítima de RESGATE sem sintomas, doenças ou traumas associados - sem tosse, com a freqüência do coração e da respiração normal, sem frio e totalmente acordado, alerta e capaz de andar sem ajuda.

2. Liberar a vítima com recomendações de ser acompanhada por médico.
a) Resgate com pequenas queixas.
b) Grau 1 - Só liberar após observação de 15 a 30 min se a vítima estiver se sentindo bem. Só observar o grau 1 no posto de salvamento se a praia estiver vazia e não necessitar se afastar da observação da água que é a prioridade.
c) Liberar o paciente para procurar o hospital por meios próprios quando houver:
* Pequeno trauma que não impossibilita andar - anzol, luxação escapulo-umeral, e outros.
* Mal estar passageiros que não o impossibilitam de andar.

3. Acionar o Sistema de Emergências Médicas (SEM) - Ambulância (193) ou levar diretamente ao hospital em caso de ausência do SEM (ambulância).
a) Afogamento grau 2, 3, 4, 5, e 6.
b) Qualquer paciente que por conta do acidente ou doença aguda o impossibilitam de andar sem ajuda.
c) Qualquer paciente que perdeu a consciência mesmo por um breve período.
d) Qualquer paciente que necessitou de boca-a-boca ou RCP.
e) Qualquer paciente com suspeita de doença grave como; infarto do miocárdio, lesão de coluna, trauma grave, falta de ar, epilepsia, lesão por animal marinho, intoxicação por drogas, etc.

OBS: O helicóptero aero-médico não deve ser acionado diretamente pelo guarda-vidas. Ele será acionado pela equipe médica conforme a gravidade da vítima informada pelo guarda-vidas e o tempo necessário para o deslocamento da ambulância. O guarda-vidas deve ser breve e o mais profissional ao passar as informações. É importante considerar, em relação ao resgate de vítima da água pelo helicóptero não médico, que o tempo de transporte da vítima na cesta ou dentro da aeronave, por longas distancias, sem avaliação e suporte primeiro pelo socorrista pode ser inaceitável, como nos casos de afogamento grau 5 e 6. Estes devem ser transportados da água diretamente para areia, onde será iniciado a ressuscitação. Ressuscitações dentro de helicóptero em vôo é totalmente inadequado e prejudicial ao sucesso das manobras, e somente é aceito em casos extremos. Os afogamentos grau 2 a 4 devem de preferência serem transportados somente após avaliação do socorrista. Em caso de dúvida procure recomendação de conduta via rádio ou por telefone com o médico ou pessoal de saúde.

Como resumo de todo atendimento de Suporte Básico de Vida (BLS) para afogamento, com uso de oxigênio, apresentamos o algoritmo BLS em afogamento, onde podemos visualizar a classificação na forma de um fluxograma que se inicia pelo exame primário, reconhecendo em primeiro lugar o ABC da vida até o tratamento específico para cada grau de afogamento.

BIBLIOGRAFIA
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Um comentário:

dienne disse...

nossa amei as informacoes,sei que vao me ajudaram muito no meu trabalho que meu grupo ira apresentar meu trabalho dia 8/06/2012.ta otimo essas informacoes.