Seguiram-se outros a respeito do gasto energético da propulsão na água e da resistência ao deslocamento (drag), do equilíbrio térmico, da contribuição relativa dos braços e das pernas na progressão e da velocidade do nadador nos diversos estilos.
Na realidade, o estudo do homem no meio aquático fica dificultado pela aplicação e manuseio dos instrumentos dentro da piscina.
Foram construídos ergômetros aquáticos de diversos tipos, dentre eles o de turbina com janela lateral de vidro transparente, o de canal circular com 60 m de circunferência, ou a “tethered swimming” que tracionava o nadador por um cinto preso à cintu roldanas presas na borda e em poste fixado na mesma, com anilhara ligado a um cabo que passava pors penduradas opondo a resistência.
Desse modo o estudo do nadador ficou menos dificultado.
Comprovou-se que o gasto energético do deslocamento na água, pela mesma distância percorrida fora d’água, era muito maior, ou seja, a eficiência mecânica da progressão dentro d’água é muito menor.
Gasto energético Estima-se que o gasto energético para uma pessoa nadar uma determinada distância seja quatro vezes maior, do que quando essa distância é percorrida em intensidade semelhante fora d’água (McArdle et al.,1998).
A energia necessária para a flutuação e a força de atrito que a água oferece ao deslocamento contribuem para um gasto energético aumentado, quando os exercícios são realizados no meio líquido.
A resistência oferecida pelo líquido, em qualquer direção e velocidade que os movimentos sejam executados, também contribui para o dispêndio energético do indivíduo.
Com relação aos alunos de turmas de aprendizado da natação, além dos aspectos já citados que favorecem um maior dispêndio energético, eles têm o gasto de energia aumentado em relação a um aluno já iniciado na natação, por apresentarem uma menor eficiência mecânica no deslocamento na água.
É importante ressaltar ainda que, dependendo do estilo adotado para deslocar-se na água, o dispêndio energético será maior ou menor.
O nado mais econômico é o crawl seguido pelo nado de costas, sendo os nados de peito e borboleta os que promovem maior dispêndio de energia, em conseqüência da maior complexidade do ciclo de movimentos de suas braçadas.
Essas adaptações permitem o desenvolvimento do metabolismo oxidativo, isto é, a capacidade de extrair do sangue arterializado que chega do ventrículo esquerdo a maior quantidade de oxigênio possível, através de uma elevada atividade enzimática oxidativa, associada a maiores massas mitocondrial e capilar advindas com a prática da natação.
Embora seja difícil separar crianças não estão engajadas em programas de qualquer atividade física, daquelas que praticam sob orientação habilitada do professor, a maioria dos autores concorda que a natação, praticada concomitantemente com o progresso contínuo, promove alterações nos volumes cardíacos e pulmonares, principalmente se a puberdade for ultrapassada sem interrupções das atividades físicas do nadador, já competindo normalmente.
É sabido que o exercício em decúbito economiza o trabalho cardíaco por facilitar o retorno venoso e, promovendo maior pressão de enchimento (précarga), resulta em expansão da cavidade ventricular, maior volume sistólico e menor freqüência cardíaca.
A quantidade de ar mobilizada por minuto (VE) é cerca de 30% menor, para o mesmo nível de consumo de oxigênio (VO2), em exercício dentro d’água, devido a pressão exercida pela água sobre o tórax no afundamento normal do corpo ao nadar.
O nadador melhora a resistência aeróbia da musculatura inspiratória, assim como tem que expirar contra a resistência oferecida pela água e, para compensar esta menor VE, tem que melhorar a extração tissular de O2, a nível periférico.
Testes ventilatórios de máxima ventilação voluntária mostram elevados resultados em nadadores, pois apresentam grande mobilidade do sistema tóracopulmonar, indicando baixa resistência elástica do mesmo.
Nesta altura, é bom frisar que não devemos perder a oportunidade de oferecer aos indivíduos em crescimento, a chance de praticar a natação, pois nesta época seus organismos estão sendo formatados pelo ambiente.
Esta fase deverá ser monitorizada por um sistema estruturado em avaliações periódicas dos parâmetros indicadores de um processo auxológico normal.
O professor de Educação Física tem a responsabilidade de verificar a aplicação destas avaliações, sejam elas clínicas, antropométricas, nutricionais ou ergométricas.
A densidade capilar, principalmente nos músculos deltóide e grande dorsais, é aumentada pela prática sistemática da natação, contribuindo para a melhora da capacidade oxidativa desses músculos.
Parece que a prática da natação durante a infância, paralelamente à maturação neurológica, traz benefícios mais pronunciados no aprendizado do ato motor no deslizamento através da água.
Embora os efeitos cardiorespiratórios (volume cardíaco, volumes pulmonares e metabolismo oxidativo da musculatura natatória) ocorram durante todo o período entre a infância e adolescência, seriam mais prevalentes na fase da puberdade, onde a síntese protéica está potencializada e promovendo, deste modo, alterações estruturais que permaneçam residuais por longo tempo.
Muitos alunos iniciam o aprendizado da natação por orientação médica por serem asmáticos.
A asma, do grego “ofegar”, é uma manifestação dispnéica, que apresenta broncoespasmo frente à exposição a alergenos, aspirina, poluentes, fumaças, anticorpos, emoções e exercício físico, sendo este último muito usado no seu estudo.
O que torna a natação a modalidade física mais freqüentemente indicada pelos pediatras às crianças asmáticas, é o fato de ser a modalidade de exercício menos asmogênica de todas.
A crise asmática se desencadeia devido a permeabilidade aumentada do mastócito ao Ca++ (o ar seco remove a água da superfície do mastócito) que eleva a liberação de histamina, assim como a concentração de leucócitos por secreção de mediadores químicos, promovendo inflamação (edema tecidual).
O tonus parasimpático, via nervo vago, pode iniciar um reflexo broncoconstritor.
Ca++ elevado na musculatura lisa leva à constrição bronquiolar.
O professor de Educação Física tem um excelente instrumento para avaliação dos alunos que apresentem atitude de afastamento das práticas físicas.
A intensidade do exercício é diretamente proporcional ao grau do broncoespasmo.
Exercícios acima de 75-80% do VO2MAX, com freqüência cardíaca em torno de 180 bpm e com duração entre 6 a 8 minutos, têm maior efeito asmogênico.
A crise asmática induzida pelo exercício pode começar durante a sessão, porém é mais comum ocorrer após sua interrupção.
Pode ser amenizada por inalação de aerosol agonista , alguns minutos antes da sessão de exercícios.
É interessante notar que algumas crianças asmáticas respondem com asma induzida pelo exercício (AIE) na primeira fase da sessão e, a seguir, ficam refratárias por até duas horas, até que a AIE se manifeste novamente, logo é bom ficar alerta para estes casos.
Mudanças no clima, por exemplo, dias frios e secos, estão associados à crises asmáticas, mesmo em repouso.
O resfriamento localizado nas vias aéreas tem grande significado nos episódios asmáticos.
O exercício de baixa intensidade, praticado regularmente, que não resfrie nem resseque demasiadamente as vias aéreas é o mais indicado para o asmático.
Na natação, a faixa até 30 cm acima do nível d’água, fica úmida pela evaporação natural da água, facilitando o processo, sendo, portanto altamente recomendada como atividade física para asmáticos.
Na natação, o contato com a água com temperatura mais baixa do que a do corpo, desencadeia uma vaso constricção periférica como resposta aguda à mudança de temperatura.
Essa resposta do organismo ao estresse de uma temperatura mais baixa visa desviar o fluxo sangüíneo da superfície da pele para as áreas mais centrais, de modo a conservar a temperatura central estável.
A glândula tiróide e a medula supra renal são estimuladas pela mudança de temperatura e aumentam a produção de tiroxina, adrenalina e noradrenalina elevando a taxa metabólica e a produção de calor.
Essa termogênese química contribui para a manutenção da temperatura interna em níveis ideais.
Este mecanismo de manutenção da temperatura leva a um aumento no custo energético das atividades aquáticas realizadas em temperaturas mais baixas.
Nedal et al. (1978) constataram que a captação de oxigênio era maior em qualquer velocidade, quando a temperatura da água era mais fria, devido a energia necessária para regular a temperatura interna do corpo.
Portanto, os exercícios feitos na água fria geram um maior gasto calórico do que em águas temperadas.
Desta forma, adiciona-se ao gasto calórico da atividade física que está sendo realizada, um gasto adicional referente à manutenção da temperatura corporal.
- calafrios constantes
- diminuição da coordenação motora
- comprometimento da capacidade de julgamentos
- Esses sintomas são indicação de hipotermia.
Medidas a serem tomadas na hipotermia
Observando-se a instalação da hipotermia, a principal preocupação ao atender a pessoa deve ser fornecer condições que permitam uma menor perda de calor.
Isso é feito retirando a pessoa da água ou do ambiente frio.
As roupas molhadas devem ser removidas e a pessoa deve ser envolvida em roupas secas (toalhas, saco de dormir,...) que cubram toda a superfície da pele.
Em casos de hipotermia leve, é recomendado fazer a pessoa ingerir bebidas quentes para ajudar no processo de aquecimento.
Em condições extremas de hipotermia, quando a temperatura interna cai para valores em torno de 25oC, as providências imediatas a serem tomadas são as citadas anteriormente, sendo que o atendimento médico torna-se essencial.
Nesses casos o tratamento especializado consiste no fornecimento de calor úmido em banheiras ou com sacos quentes em temperaturas adequadas, 43oC.
Esta temperatura permite uma mais rápida reversão do quadro de hipotermia.
Outro risco da exposição à temperaturas extremamente baixas é a possibilidade do enregelamento (congelamento dos tecidos).
Mas para que este ocorra, é necessário exposição a temperaturas abaixo de -290C, que é impossível de acontecer em clima tropical, como o do Brasil.
Contudo, é interessante informar seus sintomas.
O enregelamento ocorre principalmente nos lobos das orelhas, ponta do nariz e nos dedos das mãos e dos pés (extremidades do corpo) em decorrência da vasoconstrição periférica estimulada pela baixa temperatura.
Esse mecanismo que visa preservar a temperatura interna estável deslocando maior volume sangüíneo para o interior do corpo, tem como conseqüência a queda da temperatura nos tecidos periféricos.
Nesses casos é importante o aquecimento da região afetada o quanto antes, pois o prolongamento desta condição provoca prejuízo circulatório e lesão dos tecidos no local afetado.
Como dissemos anteriormente o contato com a água fria desencadeia a vasoconstrição periférica que reduz o fluxo periférico, deslocando maior volume de sangue para a região central do corpo.
Essa alteração no volume sangüíneo é constatada por receptores localizados, principalmente no átrio esquerdo, e esses enviam estímulos para a hipófise posterior, que diminui a secreção do hormônio vasopressina (anti diurético).
Somado a esse mecanismo, o tecido atrial libera o peptídeo atrial natriurético (fator atrial natriurético) que atua nos rins estimulando a diurese e, nos vasos estimulando a vasodilatação.
Receptores cutâneos participam dessa resposta, visto que ao molhar apenas o nariz (ou a apnéia) a bradicardia é constatada.
Voltando à superfície, com as primeiras respirações, a freqüência cardíaca retorna a valores normais.
A hiperventilação realizada antes de um mergulho em apnéia promove uma baixa significativa da pressão de gás carbônico (PCO2) arterial.
O valor médio normal da PCO2 arterial, que é 40 mm Hg, com a hiperventilação pode baixar para 15 mmHg.
Essa baixa na PCO2 promove alteração da concentração de ácido carbônico, que é um elemento importante na regulação da respiração e do funcionamento das células, determinando o tempo de permanência em apnéia.
Quando sua concentração está aumentada os centros respiratórios dão o alarme e o nadador sobe a tona para respirar, mesmo contra vontade. Os vários ciclos respiratórios realizados na hiperventilação antes do mergulho permitem que o mergulhador consiga aumentar o tempo de permanência em apnéia, mas, expõe-se a uma perda súbita de consciência ou desmaio, que são situações de extremo perigo quando ocorrem na água.
Na situação de apnéia prolongada as reservas de O2 do nadador são consumidas, enquanto que o sangue tem um nível anormalmente baixo de ácido carbônico decorrente da hiperventilação que precedeu o mergulho.
Dessa forma, até que o nível de ácido carbônico atinja concentração sangüínea que estimule os centros nervosos e o mergulhador sinta a necessidade de voltar a tona, será necessário um tempo maior.
Assim os níveis de O2 podem descer a ponto de o nadador perder os sentidos, podendo, dessa forma, se afogar.
É descrita por desportistas de diferentes modalidades e predominam nos membros inferiores e podem ser uma contração concêntrica prévia do músculo que está em repouso.
Em atletas ela mais comum à noite após períodos de treinamento intensos, ocorrendo principalmente, nas grandes massas musculares.
As chamadas câimbras do “calor” são observadas em decorrência de exercícios prolongados, feitos em ambientes com temperatura elevada e com uma alta taxa de sudorese que acarreta uma perda excessiva de líquido e baixa acentuada nos ions corporais.
Não está bem definido o mecanismo responsável pela câimbra, mas algumas teorias são levantadas.
Monod e Flandrois (1994) citam dois prováveis mecanismos:
- Uma co-ativação de nível anormal dos músculos agonistas e antagonistas pode desencadear a câimbra.
- Uma modificação do conteúdo de Ca++ do sarcoplasma devido a uma insuficiência de ATP, não permite o retorno do Ca++ para o retículo sarcoplasmático e o relaxamento do músculo não ocorre.
É isso aí ! Vivendo e aprendendo...
3 comentários:
Melhor explicação do que ocorre com quem gosta de nadar. Sensacional. Tirei várias dúvidas. Obrigado.
Muito claro e técnico. Adorei
Bom dia meu marido eravsapva vidas e recentemente foi desligado da empresa e seu corpo está reagindo muito mal com a falta dos mergulho na piscina será que vai demorar pra esse desiquilibrio passar já está até fazendo uso de medicamento controlado pra diminuir os
sintomas clorpromazina mais está muito difícil de lidar com a situação vcs tem alguma orientação?
Obrigado
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