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sábado, 17 de abril de 2010

Natação X Treinamento Infantil

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Estudos recentes têm evidenciado que a sofisticação dos treinamentos esportivos possibilita a obtenção de altos níveis de resultados e exige dos atletas, cada vez mais, determinação, tempo e esforços, que podem contribuir para a ocorrência de estresse físico e mental.

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O estresse, entendido como resposta inespecífica do organismo a diferentes agentes estressores (HANS SELYE apud GONÇALVES, 1998), pode gerar respostas psicofisiológicas adaptativas ou não.
Como exemplo destas respostas não adaptativas, podemos citar o “Burnout”1 , que é um dos fatores que interfere no processo de treinamento.
As respostas do organismo ao estresse provocado pelo treinamento esportivo são individualizadas e dependem de como o indivíduo interpreta o agente agressor.

Tal interpretação definirá se o treinamento esportivo é percebido como ameaçador ou revelará ao sujeito estratégias para lidar com o mesmo
(RIBEIRO, 1993).
Estudos mencionados por GONÇALVES (1998) indicam que crianças e adolescentes estressados apresentam sintomas tão graves ou mais que os adultos, por encontrarem-se em plena formação de suas personalidades,
o que os torna mais vulneráveis aos agentes agressores. Tornam-se ansiosos, desanimados, introvertidos, agressivos e deprimidos, além de apresentarem respostas fisiológicas, como perda de peso, falta de energia, diminuição do glicogênio muscular e da potência aeróbia máxima.

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Na pesquisa realizada por DE ROSE Jr. (1997) com 546 sujeitos (406 crianças e jovens na faixa etária de 7 a 16 anos, 171 pais e 68 técnicos), foram identificados 111 diferentes sintomas de estresse précompetitivo, tanto de ordem física quanto mental, em atletas infanto-juvenis de diferentes modalidades esportivas.

Tais sintomas provocam, com freqüência, o fenômeno do Burnout e o abandono precoce do esporte por jovens atletas.
Estudos desenvolvidos em psicofisiologia revelam uma consistente relação entre os níveis de estresse e as alterações nas respostas fisiológicas durante o treinamento, tais como:
  • o aumento das freqüências cardíaca
  • e respiratória,
  • da taxa de hormônios sangüíneos
  • e da concentração do lactato sangüíneo (BARA FILHO, 1999; TOLEDO, 2000).
Esta última merece mais atenção de nossa parte e será o objeto deste estudo, devido aos possíveis prejuízos causados no desenvolvimento global das crianças, como distúrbios do crescimento, da atenção e labilidade emocional, em especial a agressividade,
em virtude da criança possuir uma menor capacidade de obtenção de energia anaeróbia láctica em relação ao adulto (WEINECK, 1991).

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A deficiência na produção de energia em esforços máximos pelo sistema anaeróbio láctico da criança, se dá, entre outros fatores, pela baixa produção no organismo infantil da enzima fosforofrutokinase, que é responsável pela depleção do glicogênio por via anaeróbia, o que leva, após um esforço intenso, a uma pequena produção de lactato (HOLLMANN & HETTINGER, 1989).
Porém, a baixa concentração de lactato sangüíneo no organismo infantil, segundo WEINECK (1991), não deve levar à conclusão de que as crianças são aptas para cargas anaeróbias, pois valores médios de 10 mmol já representam, em relação às suas massas corpóreas, uma carga tão alta quanto representam valores de 20 mmol para os adultos (valores encontrados em treinamentos de tolerância ao lactato).

Quando as crianças são submetidas a cargas de treinamento e competições exaustivas podem apresentar valores bem próximos aos encontrados em adultos, o que é prejudicial.
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Estudos realizados por WILLIAM et al (1990) com jovens de 13 anos, demonstraram que valores de 2,5 mmol/l e 4 mmol/l de concentração de lactato sangüíneo referem-se a uma média de 84% e 93% do VO2 max., respectivamente.

Diferentemente do que ocorre em adultos, o valor referente a 93% do VO2 max exprime características de esforço anaeróbio glicolítico por parte do organismo infantil, pois esses valores de lactato representam para adultos somente trabalhos aeróbios de baixa a média intensidade
(ZAKHAROV, 1992).

O desconhecimento de que a produção de lactato em torno de 4 mmol/l pela Saturação Física e Psicológica provocada por estresse de treinamento administrados acima da capacidade individual do atleta.
Segundo SILVA & RIBEIRO criança corresponde a 93% do VO2 max, acaba levando o treinador ao equívoco de intensificar a carga do treinamento.

O aumento do lactato no organismo infantil, provocado por exigências máximas em treinamentos ou competições, eleva, segundo pesquisas de LEHMANN et al apud BARA (1999), em mais de 10 vezes as taxas de catecolaminas (Adrenalina e
Noradrenalina), hormônios típicos do estresse, que já nessa idade podem levar o atleta a limites máximos de exigências psicofísicas.
Levando em consideração que a baixa capacidade anaeróbia de jovens atletas representa, segundo HOLLMANN (1989), uma forma de proteção do organismo
infantil contra a superacidez e o catabolismo muito alto dos limitados depósitos de glicogênio, poupando-os para órgãos que dependem de glicose, como o cérebro, acredita-se que treinamentos excessivos com características anaeróbias não correspondem à realidade específica dessa faixa etária.
A partir desses pressupostos teóricos acredita se que, em resposta às cargas de treinamento excessivas, o organismo infantil tende a sofrer adaptações negativas que levam a distúrbios do gênero falta de recuperação, queda da performance e labilidade emocional.
Segundo SMITH (1986), a saturação física e mental (“Burnout”), como resposta ao estresse crônico, acabam por contribuir significativamente, e em última instância, para o “Dropout” - processo de abandono do treinamento e da prática de uma modalidade esportiva.
O “Burnout”, segundo SMITH (1986), ocorre com mais freqüência em esportes individuais, como a natação, por serem mais competitivos, de alta exigência
física e psicológica, pela natureza repetitiva e monótona dos treinamentos, além do menor suporte social dos companheiros de treinamento.

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A natação, por ser uma modalidade esportiva na qual as crianças são iniciadas muito cedo, e cujo processo de treinamento é intenso e estressante na busca do alto rendimento, vem sendo recordista em abandono precoce2 entre as diversas modalidades esportivas.
Na busca de aprofundamento no tema, e visando obter elucidações para os problemas acima citados, procuramos investigar na literatura atual possíveis respostas para tais inquietações.
Desta forma, objetivamos contribuir com o processo de treinamento das diversas modalidades esportivas, em especial
a natação, que trabalham com atletas infantis, cujos treinadores freqüentemente deparam-se com problemas de falta de adaptação ao treinamento.
METABOLISMO ANAERÓBIO E A RESPOSTA DO LACTATO SANGÜÍNEO AO EXERCÍCIO

Em função dos pesquisadores estarem altamente interessados no benefício da atividade aeróbia de longa duração para a saúde cardiovascular e pulmonar
e para a segurança no treinamento desportivo de alta intensidade, a atenção das pesquisas em Fisiologia do Exercício tem centrado seu olhar principalmente sobre a resistência aeróbia.
Utilizando-se tradicionalmente o percentual de VO2max. para estimar a capacidade de performance de resistência, a maioria dos programas de treinamento físico é desenvolvida com o intuito de aperfeiçoar tal capacidade.
Inúmeras pesquisas têm demonstrado que a resposta do lactato sangüíneo ao exercício parece estar muito mais relacionada ao resultado da performance de resistência do que ao VO2max, sendo, portanto, mais seguro na predição de programas de treinamento (WELTMAN, 1995).
Dentre as pesquisas citadas por WELTMAN, que respaldam a referida conclusão, destacamos as realizadas por COYLE et al, (1988; 1991), onde estudos com ciclistas com valores similares de VO2max. demonstraram :
1que os atletas com maior Limiar de Lactato (LL) atingiram a fadiga em tempos duas vezes mais longos e puderam trabalhar com percentagens muito mais altas de VO2max. antes de atingirem o LL.

2 Entende-se por precoce o abandono antes do atleta completar o seu estágio de maturidade física e psicológica, quando estaria em tese pronto para uma exigência máxima esportiva.

3 Aqui o LL é considerado o maior VO2 que pode ser alcançado durante exercícios máximos, antes de ser observado a elevação do Lactato Sangüíneo.

Corroborando estes resultados encontramos vários estudos que tem demonstrado um efeito superior da atividade física sobre as respostas do lactato sangüíneo e sobre as alterações musculares locais, quando comparados as alterações cardiovasculares e melhoria do VO2max. (ASTRAND, 1987), o que indica que estas adaptações dependem de mecanismos
diferenciados.
O lactato produzido durante um exercício é removido para o sangue para que seja levado a músculos inativos, ao fígado e ao coração para ser ressintetizado.
Por este motivo a concentração de lactato no sangue tem sido utilizada para determinar a sua produção durante o exercício.
Entretanto, devemos ter claro que a CLS não é unicamente resultado de sua produção no músculo, mas também o intestino, o fígado e a pele, parecem
ser capazes de liberar lactato, sendo a CLS considerada resultado do equilíbrio entre a adição no sangue do lactato produzido e sua remoção do sangue
para os órgãos que o ressintetizam (BROOKS, 1991; ROWLAND, 1996).
Com base nessas novas tendências, os treinadores de diversas modalidades esportivas, em especial a natação, passaram a utilizar a determinação do LL e a Concentração de Lactato Sangüíneo (CLS)4 para determinação da performance e do programa de treinamento de seus atletas, onde um valor de 4 mmol/l de lactato sangüíneo tem sido utilizado para determinar uma razoável aproximação da média de LA.
Quando o indivíduo é submetido a treinamentos de resistência, sabemos que o acúmulo de lactato sangüíneo diminui durante exercícios de mesma intensidade.
Apesar dos mecanismos básicos desta adaptação ainda não estarem completamente definidos, acredita-se que esta resposta do organismo ao treinamento deva-se a uma menor produção de lactato e/ou a uma melhora da eficiência na remoção e ressíntese do mesmo, devido a adaptação enzimática ao exercício, o que leva a uma menor utilização do glicogênio durante sua execução (WELTMAN, 1995).
Paralelamente, quando submetido a treinamentos intensivos o indivíduo desenvolve uma maior suportabilidade a níveis cada vez mais altos de lactato em exercícios máximos (FOX, 1983; McARDLE, 1986).
Corroborando com FOX (1983) e McARDLE (1986), WELTMAN (1995) cita vários estudos que relatam adaptações das respostas do lactato sangüíneo ao treinamento de resistência, onde todos os parâmetros, como o LL, IALS (Início do Acúmulo do Lactato), LAI (Limiar Anaeróbio Individual)5, sofrem modificações para um degrau muito maior em relação à fase pré-treinamento, inclusive para degraus sempre superiores ao ganho sofrido, em função do mesmo treinamento, pelo VO2 max.
Isto reforça ainda mais a tese de que a utilização das respostas do lactato sangüíneo ao exercício é mais adequada para avaliação da performance e prescrição do treinamento do que o VO2 max.

PRODUÇÃO DE LACTATO E TREINABILIDADE DO METABOLISMO ANAERÓBIO EM CRIANÇAS:
Aparentemente, se pouca atenção foi dada pelos estudiosos da área ao metabolismo anaeróbio, em relação à grande produção de conhecimento sobre da resistência aeróbia, pior torna-se a análise quando nos referimos às pesquisas sobre o desenvolvimento da resistência anaeróbia em crianças.
Talvez a escassez de estudos com crianças deva-se à dificuldade para
avaliar esta capacidade sem procedimentos invasivos, dada a inviabilidade de predizer a aptidão anaeróbia por meio da investigação do VO2 max.
No entanto, ao acompanhar uma criança na realização de suas tarefas diárias, é possível perceber que grande parte dos seus movimentos são de curta explosão, como saltos e curtas corridas, e sem que estas atividades intensas sejam mantidas por um longo período, capacidade que melhorará com o passar
dos anos.
Esta observação nos leva a questionar sobre o porque deste fenômeno.
Na busca de explicações, encontramos WEINECK (1991) que afirma que a criança possui uma menor capacidade para obtenção de energia anaeróbia que adulto, chegando próximo ao seu nível somente na puberdade.
Reforçando o pensamento de WEINECK, ROWLAND (1996) cita diversas pesquisas que contribuem para respondermos tal pergunta.
Grande parte de seus estudos apontam uma deficiência na capacidade e Nível de Lactato acumulado no sangue após um esforço físico.
O maior VO2 que pode ser mantido acima do tempo sem um crescimento contínuo no acúmulo do lactato, que é determinado pela capacidade individual.
SILVA & RIBEIRO
A capacidade de gerar energia anaeróbia durante os exercícios intensos por parte da criança. Entretanto, concluem que a capacidade anaeróbia aperfeiçoa-se, progressivamente, com o passar da idade. Dentre as pesquisas apontadas por ROWLAND, destacamos as realizadas por BAR-OR e FALGAIRETTE et al. (1986) que encontraram, em relação à capacidade anaeróbia, valores absolutos dobrados entre as idades de 8 e 14 anos e um aumento progressivo nas medidas relacionadas ao peso corporal e idade, respectivamente.
Corroborando com os estudos apontados por ROWLAND (1996), ASTRAND (1987) confirmou, através de estudo realizado já em 1952, um aumento constante com a idade nos valores máximos de lactato durante exercícios em bicicletas, sem diferenças significativas na CLS em meninas e meninos antes da puberdade.
Estes e outros estudos sugerem que a maturidade sexual possa influenciar na produção de lactato.
Caminhando neste sentido, PRADO (1999) vem apontando alguns estudos que aumentam a evidência entre a relação da produção hormonal que ocorre durante a puberdade e o desenvolvimento do metabolismo anaeróbio, sugerindo que somente a partir desta faixa etária é que o atleta estaria pronto para suportar tais exigências de treinamento.
Uma das grandes e significativas diferenças entre o metabolismo anaeróbio de crianças e adultos que reforçam a nossa preocupação com o problema ora apresentado, encontra-se no fato de que um valor de 4,0 mmol/l de lactato sangüíneo tem sido utilizado para determinar uma razoável aproximação da média de LA, sendo indicado para exercícios submáximos.
Entretanto, os níveis de lactato sangüíneo são mais baixos em crianças na mesma intensidade de exercícios.
Portanto, um valor de 4,0 mmol/l em crianças representa intensidades de trabalhos anaeróbios glicolíticos.

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Dados coletados por WILLIAMS, ARMSTRONG & KIRBY (1990) em um estudo desenvolvido com 103 jovens de 13 anos, demonstraram que concentrações
de lactato sangüíneo a níveis de 2,5 mmol/l e 4 mmol/l correspondem a uma média de 84% e 93% do VO2 max., respectivamente. Estes resultados são
bastante preocupantes quando analisados a luz do que aponta ZAKHAROV (1992), que nos indica que percentuais próximos e/ou superiores a 90% do VO2 max exprimem características de esforço anaeróbio glicolítico, diferente do que ocorre em adultos, pois, para estes, os valores de lactato em torno de 2 a 4 - mmol representam somente trabalhos aeróbios de baixa a média intensidade.
Em um estudo similar, TOLFREY & ARMSTRONG (1995) compararam crianças, adolescentes e adultos, quanto à relação entre o VO2 correspondente às concentrações de 2,5 e 4,0 mmol.l (-1), onde não foi encontrado diferença significativa entre os grupos para a concentração de 2,5 mmol.l (-1), que correspondeu a uma média de 85% do VO2max, para ambos os grupos.
Entretanto, para o valor de 4,0 mmol.l (-1) foi encontrado uma significativa diferença, o qual correspondeu, respectivamente para crianças, adolescentes e adultos, a 94, 92 e 87% do VO2mx.
Estes resultados reafirmam a influência da maturidade sexual na resposta do lactato ao exercício e a inadequação da utilização do valor de 4,0 mmol.l(-1) como parâmetro para o treinamento de jovens atletas.

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Essa incapacidade da criança em produzir energia por via anaeróbia láctica, segundo HOLLMANN & HETTINGER (1989), se dá, entre outros fatores, pela baixa produção da enzima Fosforofrutokinase durante a infância até a adolescência, ocorrendo um aumento gradativo com o avançar da idade, o que acarreta uma baixa produção de Lactato após um esforço intenso.
Paralelamente ao aumento progressivo nos níveis de lactato produzidos com a idade, o ph sangüíneo no exercício máximo também diminui enquanto as crianças crescem (ROWLAND, 1996).
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As mudanças relacionadas ao débito de O2 durante a recuperação de exercícios máximos e a velocidade do restabelecimento da força anaeróbia após os mesmos, que se elevam consideravelmente com a idade, são considerados um outro dado que evidencia ainda mais a limitação das crianças para a resistência anaeróbia. ROWLAND (1996) cita que o valor total de VO2 durante a recuperação de exercícios máximos é considerado um forte indicador de contribuição de energia anaeróbia.
Sintetizando, encontram-se os seguintes dados que reforçam evidências de que o organismo infantil não é capacitado para trabalhos anaeróbios glicolíticos, podendo-se citar que:
• nível de lactato sangüíneo em exercícios submáximos e máximos é menor em crianças do que em adultos e aumenta progressivamente com a idade, chegando próximo aos do adulto somente na puberdade, em virtude da maturidade sexual;
• a produção da enzima Fosforofrutokinase é menor em crianças do que em adultos; o início da manifestação anaeróbia expressa como percentagem de
VO2 max. é maior em crianças do que em adultos;
• o restabelecimento do débito de VO2 ou O2, aumenta com a idade e o ph sangüíneo é inicialmente muito mais alto em crianças do que em adultos, diminuindo seus valores com o passar da idade.
Apesar dos estudos referentes à treinabilidade desta capacidade em crianças serem em pequeno número e, por vezes, contraditórios, evidências tem sido apontadas no sentido de que todos os parâmetros aqui discutidos melhoram ao longo do tempo através de um treinamento sistematizado (PRADO, 1999).
Entretanto, WEINECK nos alerta que: A menor capacidade anaeróbia deve ser levada em consideração durante a execução de cargas de resistência na idade infantil e jovem: a escolha dos métodos e conteúdos de treinamento, assim como a dosagem da intensidade e duração das cargas de treinamento, devem ser adaptadas à realidade fisiológica da idade.

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Deste modo, o treinamento quando administrado em crianças e adolescentes, sem respeitar as características destas faixas etárias, pode tornar-se um fator desencadeador de um alto nível de estresse tanto físico quanto psicológico, provocando adaptações negativas tanto de ordem biológica quanto mental, levando a uma possível saturação (“Burnout”) por parte do atleta, podendo, em uma última análise, contribuir para o processo de abandono da modalidade (“Dropout”), fenômeno muito comum na natação.
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Apesar das transformações tecnológicas e sofisticações do treinamento esportivo, percebe-se que ainda existe muita controvérsia na literatura, no que diz respeito aos benefícios e malefícios do treinamento de rendimento administrado precocemente.
Ainda que exista uma grande necessidade de pesquisas na área, muitas evidências já foram apontadas, por estudos tanto em Fisiologia quanto em Psicologia, no sentido de que as crianças não estão preparadas, seja em função dos seus processos de crescimento e desenvolvimento ou de sua maturidade biológica e psicológica, para a assimilação positiva das altas cargas de treinamento, necessárias para se adquirir a performance esportiva.
Mesmo diante destas evidências, só tem crescido o número de crianças submetidas precocemente a processos sistematizados de treinamento em busca de vitórias e recordes nas mais variadas modalidades esportivas, principalmente na natação.
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Acredita-se que ao se submeter um sujeito a níveis máximos de treinamento, independente do nível e importância da competição, pode-se levar este jovem a acumular lactato sangüíneo acarretando no organismo disfunções psicofisiológicas.
Vale ressaltar que considera-se treinamento de alto nível toda e qualquer situação de competição e treinamento que possa levar o atleta a auto superação física e mental, e não necessariamente os que preparam exclusivamente para as competições de nível internacional.
Outros, com base no estudo realizado por GONÇALVES (1998) com alunos de primeiro grau, onde foi encontrada uma negativa, consistente e significativa correlação dos indicadores dos níveis de estresse com o rendimento escolar, suspeita-se que os altos níveis hormonais, bem como o acúmulo de lactado, considerados agentes agressores ao organismo infantil, podem contribuir para o aumento da agressividade, diminuição dos níveis de atenção e conseqüente redução dos níveis de rendimento do atleta.
Na tentativa de contribuir para solucionar o problema apontado neste breve ensaio, encontramos na psicofisiologia um caminho possível para analisar os efeitos negativos provocados por treinamentos intensivos, administrados a crianças.
Em especial, este trabalho refere-se ao controle da concentração e remoção do lactato sangüíneo.
Segundo RIBEIRO & BENDA (1995), a Psicofisiologia consiste na integração da Psicologia e da Fisiologia, viabilizando meios para a compreensão das respostas psicomotoras e desenvolvendo estudos que demostram uma consistente relação entre os níveis de estresse e as respostas fisiológicas provocadas pelo treinamento, como o aumento das freqüências cardíaca e respiratória, de hormônios sangüíneos liberados durante o estresse e da produção de lactato pelo músculo.
TOLEDO (2000) concluiu em seu estudo desenvolvido com atletas de Futsal da categoria juvenil (16-19 anos), que a Técnica de Relaxamento Progressivo de Jacobson provoca uma significativa redução no acúmulo de lactato em esforços subsequentes à aplicação da técnica, bem como contribui na redução de seus níveis após esforço.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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